Estávamos na festa de aniversário de um amigo. Tudo muito bonito, roupa novinha, sapato da moda. Mas na hora dos cumprimentos, vieram à boca palavras antigas. Aquelas de sempre: parabéns, tudo de bom, muita felicidade, etc.
Depois de falar, fiquei pensando no assunto.
Por que a gente se limita a desejar uma felicidade assim em abstrato? Por que não formular votos mais simples e adequados à pessoa em questão?
Por exemplo: bem poderíamos dar um reforço para o amigo aguentar o tranco na academia – coisa que ele quer muito, mas não está conseguindo fazer. Ou, então, incentivar a vender o carro que gasta demais e derruba as finanças. Qualquer coisa assim, por miúda que seja, provavelmente ajudaria mais do que repetir as fórmulas velhas.
Todos sabemos que é um exagero e que pouco resulta jogar todas as fichas na felicidade total. (Além de tudo, alguém aí sabe o que a felicidade é de fato?) Por que continuar oferecendo frases vazias?
§§§
A gente poderia agir diferente. Baixar a bola nos votos que faz. Ser mais modesto. Isto vale para aniversário, formatura, casamento, início de empresa, ano novo, etc. Em vez de um pacote de venturas, com laços dourados por cima, desejar alguma coisa concreta, possível. Depois, – olha o detalhe – ajudar que a tal coisa aconteça na vida real. Amigo é pra o quê, afinal?
§§§
Dizem que todas as pessoas sentem medo. Até os mais graúdos tem medo. O que distingue as pessoas umas das outras é a maneira como lidam com o medo que sentem. Coisa parecida pode ser dita sobre as dificuldades. Dificuldades chegam para todos, de um jeito ou de outro. A vida sempre cobra pedágio. Ninguém é poupado. Ninguém passa liso. Cada um tem de pagar a sua quota.
Sendo assim, voltando à história da festa e às palavras que se podem dizer, tenho uma sugestão. É preferível desejar que a pessoa aumente a capacidade de enfrentar as dificuldades, em vez de investir na fantasia do “tudo de bom”. Que a pessoa seja capaz de encarar aquilo que vem, no lugar de desmoronar, de ir pra cama ou fugir. Desenvolver a força interior que permite dar a volta por cima. Esta qualidade tem o nome de resiliência. Não, não é a mesma coisa que ficar liberado do sofrimento. Quer dizer que a gente recebe o golpe, mas continua peleando.
Então, é isto aí, já pode ensaiar para dizer na próxima festa: parabéns e mais resiliência, meu caro!