Gosto muito receber convites. Se for para conversar com grupos de pessoas, melhor ainda. Acontece que professoras antigas tem saudade do tempo em que tinham uma plateia à sua frente… A plateia escutava meio na marra – isto é verdade – mas, ao menos estava ali, fazendo companhia.
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Dia desses estive numa escola, conversando com os pais.
Não demorou muito e ficou claro que estamos todos assustados. Os perigos aumentaram. Os métodos mudaram. Temos muitas dúvidas. Perdemos a confiança em pessoas e em instituições. Não sabemos bem para que lado ir.
O nó central é o seguinte: o mundo está diferente daquele em que nos criamos. Mas quanto diferente pode/deve ser a nossa relação com as crianças?
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De tudo o que falamos, ficaram algumas pistas:
* não há mais espaço para agir com violência. Bater com cinto ou com vara de marmelo nunca mais. Hoje sabemos que o principal produto da violência é a violência. Sabemos que a violência ensina a violência. Autoridade tem de existir, sim, mas não aquela que é garantida a pau.
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* obedecer normas continua sendo indispensável. A convivência fica impossível sem haver limites. Os direitos dos outros valem tanto quanto os nossos – é imperioso que as crianças entendam isto. Um grupo funciona muito melhor quando há princípios claros, aos quais todos obedecem. Sim, isto mesmo: os princípios valem para todos ou ficam desmoralizados em dois toques.
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* paciência para explicar por que isto-pode e isto-não-pode ajuda muito.
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* o melhor professor é o exemplo. Os adultos devem mostrar que cumprem o que combinam. Desde coisas pequenas, como pontualidade, até coisas maiores, como honrar a palavra dada.
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* reconhecer a diferença entre desejo e realidade é importante. Nós queremos que todos os brinquedos sejam nossos. Nós queremos tudo para agora. Nós queremos sombra e água fresca o tempo todo. Os desejos voam livres como cavalos a galope, mas eles são só desejos. Transformar desejos em fatos dá trabalho e nem sempre isto é possível. Entre o feijão e o sonho há uma boa distância. Aqui entra a humildade para aceitar o que não pode ser diferente. Entra também o esforço e a disciplina para cavar soluções melhores.
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Etc.