“Há duas épocas da vida – infância e velhice – em que a felicidade é uma caixa de bombons”, disse Carlos Drummond de Andrade.
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Se isto é verdade, o volume de caixas de bombons vai crescer cada vez mais junto ao segundo grupo. Acontece que, logo ali, em 2050, pela primeira vez na história da humanidade, o número de idosos estará superando o número de crianças.
No Brasil, a evolução acompanha o fenômeno mundial. Há meio século, a expectativa de vida aqui rondava os 50 anos; hoje, se aproxima dos 75. Em 1960, apenas 5% da população brasileira estava com a idade acima de 60 anos. Na década de 70, já havia o dobro de pessoas e em 2050, mais de 25% dos brasileiros terão ultrapassado essa faixa. De outro lado, o nascimento de crianças não para de cair. A taxa de natalidade brasileira de hoje não repõe mais a população.
Não é surpresa, portanto, afirmar que, cada vez mais, a Terra é grisalha.
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Num ambiente assim, cai bem comentar o livro “A bela velhice”.
“A bela velhice” é o título que a antropóloga e professora Mirian Goldemberg lançou no ano passado. Já que todo mundo – que tiver sorte – vai ficar velho, aí está uma leitura para agradar, indistintamente, jovens e velhos.
Mirian Goldberg escreve a partir de uma extensa pesquisa e suas constatações são interessantes:
Primeira: as mulheres tem muito mais medo de envelhecer do que os homens. Em contrapartida, envelhecem melhor. Elas vão ao médico com mais regularidade e tem preocupação maior com a aparência. Deste modo, depois dos 60, se dispõem do dinheiro necessário para sobreviver, aproveitam mais a idade.
Segunda: Os homens, que passaram a vida focados no trabalho, na velhice valorizam os afetos como nunca e se voltam mais para a família. É capaz até que aprendam que podem chorar. Por sua vez, as mulheres dão mais importância à liberdade que a velhice lhes proporciona. Agora elas querem aproveitar o tempo para cuidar mais de si mesmas. Em vez de chorar, elas só querem saber de rir.
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Motivado por esta onda de envelhecimento, certos preconceitos estão começando a cair. O principal deles diz respeito à incapacidade que os velhos teriam para aprender.
O que os especialistas dizem é que falta criar formas adequadas de ensinar os idosos: “Até agora só sabemos como as crianças aprendem” – eles afirmam.
Ou seja, viva a bela velhice! Se possível, com uma caixa de bombons ao lado…