Mais e mais pesquisas têm mostrado que, uma vez satisfeitas as necessidades hoje consideradas básicas, ganhar um pouco mais de dinheiro não acrescenta pontos para a felicidade. Isto quer dizer que a quantidade maior de dinheiro não tem o impacto que se imagina que ele teria na nossa vida.
Mas será que o modo de gastá-lo diz alguma coisa?
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É aí que entra a pesquisa de um professor da universidade de Princeton, Michael Norton. Ele fez uma inversão na equação. Em vez de observar o impacto do dinheiro que se ganha, pesquisa como a felicidade é afetada por aquilo que a gente gasta. Em 2013 publicou um livro explicando o que ele chama de “gasto mais inteligente”, aquele que tem a ver com felicidade.
Para quem ficou interessado, em inglês o título é: Happy money: the science of smarter spending”.
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A pesquisa do professor Norton destaca três pontos.
Mostra primeiro que gastar fazendo boas coisas para os outros contribui mais para a felicidade do que gastar consigo mesmo.
Segundo, o resultado de uma compra é mais positivo quando envolve a participação do comprador. É o chamado “efeito Ikea”. Ikea é uma rede de lojas que vende objetos desmontados. A pessoa compra e tem de conseguir reunir as partes. Pois bem, mesmo quando o trabalho de montagem é simples, a satisfação do comprador é maior do que se ele levasse tudo pronto. De acordo com o pesquisador, isto explica também por que as pessoas podem ter em casa objetos horríveis, mas que são muito apreciados exatamente por que resultam do esforço dos moradores.
Terceiro, o gasto de dinheiro se torna mais gratificante quando envolve um ritual. Uma das experiências relatadas no livro mostra que cada um dos integrantes do grupo pesquisado ganhou uma barra de chocolate. Metade o grupo podia comer o chocolate como quisesse. A outra metade foi orientada a seguir uma espécie de cerimônia. Os participantes deviam retirar a embalagem de uma maneira especial. Depois, eram ensinados a quebrar o chocolate em pedacinhos de certo tamanho e, por fim, deviam colocar na boca cada um dos pedacinhos e degustá-los longamente. Não é preciso dizer que o segundo grupo teve uma experiência muito mais significativa do que o primeiro. Em tempo: mesmo quando cenouras foram utilizadas no lugar de chocolate, o resultado foi o mesmo.
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Resumo da ópera. As pesquisas do professor Norton colocam uma pulga no meio das nossas certezas.
O mundo moderno se orgulha das conquistas que tanto facilitam a vida, como a automação, o pronto-para-usar, etc. Mas, ao que parece, ainda não é desta vez que se chegou à fórmula. O menor esforço não consegue capturar a felicidade.