Todo mundo conhece aquela fábula antiga.
Havia uma turma de ratos que não fazia a vida com um gato faminto. O gato andava por tudo que é lado. Dia sim e outro também, um rato acabava no papo do gato.
Fazer o quê?
Os ratos se reuniram para equacionar o problema. Palavras de fúria foram lançadas. Açoites verbais: que o gato tomasse cuidado, a vingança estava a caminho! Armar emboscada. Arruinar as unhas do gato. Acabar com os dentes do gato.
RRRRR.
Veio por fim uma ideia brilhante. Era amarrar uma sineta no rabo do gato! Quando o gato chegasse, mesmo pisando macio, a rataria ia logo saber. Aí estava um achado! Como não tinham pensado nisso há mais tempo? Com uma sineta amarrada, o gato estava acabado. Uma barbada!
Daí por diante é aquilo que a gente conhece. Quando chegou a hora de achar alguém para instalar a tal da sineta, nenhum voluntário se achou. Nem a pau se encontrou alguém para fazer o serviço. O resultado é que tudo continuou como antes. Os ratos fazendo reunião e o gato – por mais que azedassem os discursos dos ratos – com a mesma rotina de sempre.
* * *
Estou lembrando de novo esta história porque também nós, aqui e acolá, bancamos os ratos sabidos. Falamos, falamos, falamos. Construímos soluções com palavras. De tanto falar, ficamos achando que nossas palavras agem por si. Pensamos derrubar o problema no grito. Toda ocasião é pretexto para enfiar um discurso. E saímos crentes de que nada será como antes: o som das palavras movendo montanhas.
O caso, no entanto, é que palavras não amarram sineta em rabo nenhum.
* * *
A história dos ratos vem à lembrança, ao avistar pelas ruas os sinais da campanha eleitoral que começa. Minha nossa! Quem ainda tem bolsa para as promessas que garantem salvar a rataria de uma vez? Quem acredita nos mesmos, prometendo as coisas de sempre? E como se tudo fosse só uma questão de falar? E como se já não tivessem falado as mesmíssimas coisas um monte de vezes?
* * *
Ou seja, queremos menos palavras e mais detalhes sobre como fazer as mudanças. Queremos saber de onde o dinheiro virá, quais sacrifícios serão necessários, quanto tempo cada coisa demanda e assim por diante.
Bem que podíamos aproveitar a lição da sineta no rabo. O rabo do gato é o contraveneno do papo! Pode não ter lá muito charme, mas, se abrir inscrição, voto no rabo do gato para o papel de mascote na vindoura eleição.