No domingo será dia de Finados. O costume de celebrar a data é antigo. Historiadores dizem que, desde as eras mais longínquas, a humanidade procurou estabelecer contato com o mundo dos mortos – qualquer que fosse a maneira de imaginar como tal mundo seria. Diferentes rituais em diferentes geografias e tempos diversos tiveram como denominador comum o anseio por manter aberta a comunicação com os que morreram antes. Sempre foi difícil aceitar que o acesso aos entes queridos viesse a ser interrompido para sempre. No calendário religioso, o 2 de novembro aparece já no século XIII, quando a Igreja adota oficialmente a prática que monges beneditinos franceses cultivavam havia mais de 200 anos.
Uma das características do nosso tempo é o esforço por afastar as evidências de que a decadência e a morte existem. O jogo que se joga com a velhice, como bem sabemos, é uma luta vã. Embora os cosméticos e as cirurgias plásticas sejam trunfos de considerável valor, não resistem ao último round – que sempre vem.
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Mas não são todos os povos que experimentam a mesma melancolia no dia de Finados.
O caso mais notório é o dos mexicanos. Eles herdaram dos primeiros habitantes do país um costume muito peculiar, um costume que existia já antes da chegada dos colonizadores. No México o “dia de los muertos” é um dos feriados mais importantes do ano, mas não está associado a luto ou a tristeza. Parece mais com uma festa, cujo objetivo é promover a harmonia entre os que estão vivos e os que estão mortos. As famílias criam dentro de casa altares em honra dos seus antepassados. Ali colocam flores e as comidas favoritas, além de objetos que os entes queridos apreciavam, que podem ser cigarros, brinquedos, roupas, etc. Existe até um bolo que se prepara especialmente para a ocasião, é o “pan de muerto” – um quitute que homenageia os falecidos e alegra os vivos. Nos cemitérios limpam-se os túmulos, colocam-se flores e às vezes até se fazem ali mesmo piqueniques. Em todos os casos, come-se e bebe-se muito para promover a confraternização, para aproximar a dimensão visível da outra, onde se encontram os falecidos.
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Mais na linha dos mexicanos, vem Alice Ruiz para dizer que:
“A gaveta da alegria está cheia de ficar vazia.”