No ano de 1900, o Conde Affonso Celso (1860-1938) escreveu um livro que ficou famoso. Recebeu um número grande de elogios e também foi criticado a valer, até ridicularizado foi, em função daquilo que se chamou de orgulho exagerado e cego. Trata-se da obra intitulada “Por que me ufano do meu país”.
No seu livro, Affonso Celso faz uma lista de treze motivos para os brasileiros terem orgulho do Brasil. Esses motivos abrangem as características do território – como extensão, beleza, clima – e se estendem para as vantagens da mistura de raças e para o fato de nosso país nunca ter sido agressor nem ter sofrido derrota em guerras.
Ainda na introdução, o livro diz o seguinte:
“Ousa afirmar muita gente que ser brasileiro importa condição de inferioridade.
“Ignorância ou má fé!
“Ser brasileiro significa distinção e vantagem. Assiste-vos o direito de proclamar, cheios de desvanecimento, a vossa origem, sem receio de confrontar o Brasil com os primeiros países do mundo.”
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Há muitos anos comprei o tal livro de Affonso Celso em um sebo – o local que vende livros de segunda mão – e já nem lembrava mais dele. Até que no domingo passado o título me saltou à cabeça quando acompanhava o resultado das eleições. Pode ser um pouco tarde, mas o fato é que me peguei dando razão para o Conde Affonso Celso.
É verdade que temos muitos motivos para nos orgulhar do Brasil. Claro que também temos motivos para nos envergonhar, mas neste momento queria fazer como fez Affonso Celso: olhar somente para o lado bom.
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Cabe tirar o chapéu para a forma como o processo eleitoral transcorreu no Brasil. Também para a rapidez na apuração dos votos e para a presteza com que foi possível anunciar os eleitos. Muito mais ainda, temos que tirar o chapéu para a serenidade com que todos aceitam os resultados. Não temos o menor receio de que um grupo tome o poder à força, se não gostar dos nomes dos vitoriosos. A vontade dos brasileiros pode se manifestar livremente. A maioria vence e quem perde reconhece o fato. Tudo o que os derrotados podem fazer é aguardar a próxima oportunidade e tentar novamente.
Affonso Celso não tocou neste quesito no seu livro. Os tempos eram outros, a República era muito recente, a democracia engatinhava. Mas, se vivesse agora, poderia colocar mais um item na lista. Poderia dizer que se ufana do seu país por ser uma democracia amadurecida.