“El tiempo pasa nos vamos poniendo viejos
el amor no lo reflexo como ayer.
… Pasan los anos, y como cambia, lo que yo siento,
lo que ayer era amor, se va volviendo otro sentimiento.”
A canção acima ficou famosa na voz da argentina Mercedes Sosa. Há também uma interpretação em dueto com Fagner de que particularmente gosto muito. Pois bem, essas palavras me vieram à memória, quando pensava nas mudanças que o tempo impõe. Tudo muda. Muda também o entendimento que temos das coisas. Da felicidade, inclusive.
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Houve época em que a felicidade nem era tão cobiçada como atualmente é. Talvez, por ser um alvo considerado inalcançável. Acreditava-se que a humanidade tinha conhecido a felicidade no passado longínquo, quando habitava o paraíso terrestre. Mas, enganados pela serpente, os homens a deixaram escapar. Agora só cabia amargar a perda.
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Também se acreditou que a felicidade estava transferida para o tempo futuro. A vida aqui na terra seria pouco mais do que a passagem por um vale de lágrimas. O amparo para encarar a tormentosa travessia vinha da esperança no porvir. Numa outra vida, no céu – para quem soubesse ganhá-lo – seria possível conhecer o gozo que as limitações da vida terrena simplesmente tornavam inviável.
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Hoje em dia, no entanto, nada parece mais natural do que o direito à felicidade plena. Queremos ser felizes aqui e agora. Imediatamente. E o tempo todo. Não se acredita muito em esperar, não desce bem a ideia de “cobrar a conta” mais adiante.
A propaganda voltada para o consumo faz o diabo para fortalecer este conceito. Sejam os comerciais de roupas, sejam os de cerveja, os de automóvel, os de viagens ou, até mesmo, os anúncios de azeite e de sabonetes, a promessa embutida é sempre a mesma. Se você tem, você experimenta um bem-estar incomparável; se não tem, você está ralado. Pior ainda: como todo o mundo está correndo atrás, se você bobear é o único a ficar fora da festa.
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É bem verdade que o conforto disponível aumentou, bem verdade que os remédios se multiplicaram, bem verdade que sabemos muito mais sobre quase tudo
Mas, se a felicidade ficou mais fácil de agarrar, isto francamente não sei.