Leio a matéria destacada em publicação de culinária. Ensina como preparar um jantar para seis pessoas em uma hora. Isto mesmo, a reportagem vai marcando no relógio os minutos necessários para cada movimento, desde a chegada em casa com as compras do supermercado até a hora em que as visitas tocam a campainha. Descreve a ação com as panelas, indicando o que fazer primeiro, o que fazer depois e ainda consegue incluir nos sessenta minutos um tempo para tomar banho, vestir-se, arrumar a mesa e abrir a porta para os convidados. Encontra espaço igualmente para o anfitrião preparar um drinque e se desafobar um pouco, enquanto ainda está sozinho.
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A descrição é impressionante. Nem atletas de alto rendimento fariam melhor serviço. Mas o que me toca mais é o que está por trás do sucesso em deixar tudo conlcuído com tamanha rapidez. Refiro-me ao afã de viver a mil por hora, que é uma das marcas do mundo atualmente.
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Moderno ou não, à medida que amadurecemos a percepção do tempo se modifica e vamos ficando mais e mais cabreiros com essa correria toda. Ao contrário do que poderia parecer, a juventude experimenta muito mais pressa, embora têm mais tempo do que os velhos à sua frente. A juventude adora a velocidade, quer fazer tudo a jato, crente de que assim aproveita mais a vida. Mas quanto a correria ajuda? Um ditado português ensina que a pressa faz parir cachorro cego.
Aproveitar de fato a vida pode ser apreciar cada minuto do começo ao fim. Reconhecer que a ante-sala é também local de curtição. Igual receita vale para o caso de um jantar. Legal não é somente por na mesa a comida pronta. Ao contrário, o melhor de tudo pode ser aproveitar o que vem antes. Muito da graça de um churrasco, por exemplo, é exatamente fazer churrasco, papeando, virando espetos, tomando um gole, sentindo o cheiro e ouvindo o fogo crepitar.
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Se for necessário preparar um jantar em uma hora, tá bem, que seja, mas fica combinado que isso é uma emergência. Em condições normais, melhor viver a alegria de picar, frigir, misturar ingredientes, mexer refogados, gratinar, flambar e decorar pratos!
Degustar cada operação como quem degusta um vinho bom, em vez de correr tanto que ao cruzar a linha de chegada a gente esteja simplesmente no bagaço.