A conversa com um amigo me tirou o sossego. Falávamos sobre a inquietação que acompanha esta fase do ano. Nesta época, ao fazer os devidos balanços, a gente se espanta com a rapidez da passagem do tempo. Junto com isso vem uma dúvida atroz: se passa voando do jeito que passa, como fazer para aproveitar bem a vida?
Dizia o amigo que seu medo era se arrepender no final. No final, ter a sensação de ter deixado o tempo escapar e aí já ser tarde demais.
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– O que é aproveitar bem a vida?
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A questão parece bem simples. Só parece. Não apenas filósofos e os escritores, todo o mundo alguma vez já quebrou a cabeça para buscar as respostas possíveis.
Guimarães Rosa costumava dizer que “viver é muito perigoso”. O poeta Paulo Hecker Filho, no poema que vou copiar no final deste texto, se rende. Acha que a missão é impossível. Não há como aprender a viver (nem a morrer, aliás).
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De todo o jeito, o papo de que falava no início rendeu. O que seria mesmo aproveitar o tempo que temos? Algumas pistas ficaram.
Ao que parece, ajuda um pouco reconhecer que a gente desempenha variados papéis nesta vida. E que situação diferente pede atuação diferente. Por exemplo: tem hora em que cabe tomar o comando e mandar; tem hora que é melhor ocupar posição de descanso e ficar contemplando a paisagem. Tem hora de somente aceitar o que vem; tem hora de entrar na briga e brigar; tem hora de fazer retaguarda para quem está na frente da luta, etc, etc. Ou seja, é do momento o modo de melhor aproveitar o momento.
Mas como saber qual o papel adequado ao momento? Aí é que está. Decidir na hora é preciso e se arrepender depois não adianta bulhufas.
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Ignota
Não perco um obituário,
datas, locais, maneiras de findar:
A ver como é, me habituando.
Mas vou partir não sabendo, como vim.
Por mais que a gente encare,
a morte, como a vida, não se aprende.
Paulo Hecker filho