Nestes dias de verão severo, lembro das minhas peripécias de guri. Passatempos no rio Taquari e na represa do Seminário Sagrado Coração de Jesus, além do arroio do Meio, onde se pescava lambaris, carás e bigodudos jundiás. O professor Alceu Thomé levava a piazada do Colégio São Miguel para jogar futebol no seminário. Ele é um personagem inesquecível!
O esporte era versão oficial. Todos queriam mergulhar nas profundas águas da represa. Tínhamos um pacto para que a traquinagem ficasse entre nós, um segredo! Meus pais jamais souberam, afinal, até hoje não aprendi a nadar…
Outro passatempo das infindáveis tardes de verão eram os banhos no rio Taquari, outrora com águas límpidas pavimentadas por enormes cascalhos. Era comum – como já contei neste espaço – amarrar imensas câmaras de ar – de caminhão e trator – doadas pelo borracheiro Donato Kerbes, amigo mais velho da gurizada sempre ávida por novidades.
Amarradas, as câmaras formavam uma espécie de balsa em que viajávamos pendurados rio abaixo até chegar a Lajeado. Se a descida do rio era festiva, o retorno era trabalhoso. Além do volume do “equipamento de viagem”, reuníamos 10 ou 12 guris que, de polegar erguido, tentavam por horas uma carona na “estrada velha” para Arroio do Meio.
Eu ficava impressionado com os seminaristas, confinados enquanto íamos às reuniões dançantes
Minha mãe, dona Gerti, soube de tudo isso há pouco tempo através dos textos veiculados aqui. Ao chegar à casa materna, em Arroio do Meio, fui recebido com um olhar severo.
– Ah é? Li o “O Alto Taquari” e assim descobri como tu passavas as tardes das férias! – disparou com severidade e bom humor.
Quando chovia jogávamos pingue-pongue numa mesa instalada em área coberta do seminário. Guris e gurias se misturavam em torneios para esperar a volta do sol. O seminário é um lugar rico em lembranças para mim.
O padre Gentil Delazari foi um grande amigo. Morei ao lado do campo de futebol, na casa do gênio Roque Danilo Bersch (rua Gustavo Wienandts). Eu costumava lanchar, à tarde, com os seminaristas, e bater bola. Ficava impressionado como aqueles jovens confinados nos finais de semana quando íamos às reuniões dançantes de garagem.
A amizade com o Padre Gentil valeu o convite para celebrar, numa cerimônia ecumênica na Igreja Santo Inácio, meu casamento. Padre Gentil era culto, bem humorado e muito diferente dos religiosos radicais da época.
São reminiscências distantes de atrações de tevê, dos videogames ou das redes sociais. De social, fizemos amigos para o resto da vida. E isso não tem preço!