Tenho forte ligação com a colônia.
Até ficar adulta, passei todas as férias na casa dos avós no interior de Pouso Novo. Não vou dizer que trabalhasse a sério, mas conforme o costume consagrado, cada familiar ajudava onde podia. Sendo assim, bem cedo compreendi que a colheita era alegre, mas também penosa – naquele tempo, o feijão, tinha de ser espalhado sobre a eira e batido com manguá, para só ficar com um exemplo da dificuldade. Descobri que as vacas davam leite, sim, mas que era preciso alimentá-las, o dia fosse de calor ou houvesse um geadão.
Ou seja, sei bem como é alegre e também o quanto é duro ganhar a vida no interior.
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Apesar da quota de dificuldades que a roça impõe, todo mundo sempre soube que qualificar como “colono” alguém não significava exatamente um elogio.
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Pois bem. Em primeiro de janeiro de 2015, tomou posse no governo estadual um homem que se apresentou como colono aos eleitores e, nessa condição, conquistou a confiança dos gaúchos. Ele não precisou assumir traços da cidade para ser levado a sério. Muito antes o contrário.
O que teria acontecido para modificar assim a imagem da colônia, em questão de algumas décadas?
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Parece que dois fatos importantes sucederam.
Primeiro, a vida rural foi conquistando status diferente do que antes tinha, seja por que no geral aumentou o prestígio de estar junto à natureza, seja por que hoje se respeitam mais os que ganham lá a vida. Neste caso, o mérito é dos colonos. Eles foram aprendendo a ser mais eficientes no trabalho e conseguiram ir profissionalizando a administração. A reviravolta aconteceu e foi tão grande que passou-se a chamar de agronegócio o que antes era conhecido como roça.
Em segundo lugar, cresceu a admiração pelo significado dos valores da colônia. Desses valores fazem parte algumas coisas ao mesmo tempo rasas e fundamentais. Por exemplo: só dá para colher depois de ter plantado. Há que esperar a galinha botar o ovo para então levar na venda. Cumpre tratar bem a vizinhança, é a vizinhança que ajuda na necessidade. Mais, se a vizinhança está unida, dá para levantar a igreja, melhorar a escola e garantir a diversão no baile. Outra coisa, a qualquer hora pode sobrevir a seca ou chover demais, de modo que é preciso manter sempre uma reserva: nada de gastar tudo o que se ganha, muito menos, ser doido de gastar antes de ganhar.
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Nós vamos ter um colono no palácio.
Faço votos de que os valores da colônia deem o tom para o mandato. Certamente não é tudo o que se espera de um governo, mas, para o meu gosto, já é um bom começo.