Andei relendo Mario Quintana, o poeta tão querido, cujo centenário de nascimento transcorre em 2016.
Quintana mete a colher em tudo o que é assunto e gosta de puxar um sentido diferente do habitual. Esse jeito de escrever torna possível organizar uma espécie de dicionário das suas definições. Abaixo vai uma amostra:
ALMA – esta coisa que nos pergunta se a alma existe.
AMAR – mudar a alma de casa.
ANJO – ser celestial metediço na vida terrena, uma espécie de Relações- Públicas de Nosso Senhor.
CANIBALISMO – maneira exagerada de apreciar o seu semelhante.
CIDADE GRANDE – dias sem pássaros, noites sem estrelas.
CIGARRO – uma maneira disfarçada de suspirar.
DESTINO – o acaso atacado de mania de grandeza.
ESTILO – deficiência que faz com que um autor só consiga escrever como pode.
GUARDA-CHUVA – o mais infiel dos animais domésticos.
GUERRA – método prático de geografia.
HERÓI – camarada impulsivo que morre cedo.
IMAGINAÇÃO – a memória que enlouqueceu
INFÂNCIA – a vida em tecnicolor.
INDIFERENÇA – a mais refinada forma de polidez.
LAZER – não assistir a esses cursos sobre lazer.
MENTIRA – uma verdade que se esqueceu de acontecer.
MODÉSTIA – vaidade escondida atrás da porta.
MEDITAÇÃO – vício solitário.
MONÓLOGO – diálogo feminino.
NÓS – o pronome do rebanho.
PICASSO – famoso precursor da Talidomida.
POBRES – espetáculo predileto dos ricos.
REZAR – falta de fé. Nosso Senhor bem sabe o que está fazendo.
RICOS – espetáculo predileto dos pobres.
SALA DE ESTAR – mas de estar o quê?
SONHAR – acordar-se por dentro.
TEMPO – um ponto de vista dos relógios.
TEOLOGIA – caminho mais longo para chegar a Deus.
TRABALHO – a farra dos velhos.
VELHICE – a vida em preto e branco.
VIAJAR – mudar o cenário da solidão.
VIRA-LATAS – o último boêmio.