Nos últimos meses pouco se vê nos noticiários, além da informação de que brasileiros inauguram alguma forma diferente de roubar dos brasileiros.
Seja pelo montante, seja pelas artimanhas, somos informados de que estão em voga muitos tipos de trambiques. Trambiques que – diga-se de passagem – a maioria babaca não seria nem capaz de imaginar possível. Portanto, novidade zero nas notícias. Fora, claro, os nomes e os valores colossais.
O resultado é que, de falcatrua em falcatrua, vamos chegando ao ponto do cansaço. Tudo está muito cansativo. Aí aparece, eu acho, o lado bom da coisa.
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Primeira das vantagens que aparece: temos chance de ir suspendendo o costume de culpar os outros, sempre os outros, pelas desgraças nacionais. Sejam os outros o capitalismo internacional; os Estados Unidos; El Ninho; indo mais longe, os degredados que os portugueses desembarcaram no Brasil para colonizar a terra, logo depois do descobrimento ou os portugueses, eles mesmos. Etc.
Pelo que se vê agora, a roubalheira é democrática, atual e brasilianíssima. Quem atravanca o desenvolvimento do Brasil somos nós mesmos, sim senhor.
Chega, então, de botar banca de guri. Chega de transferir responsabilidades e não enxergar as próprias faltas e, deste jeito, não as corrigir jamais.
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Segunda das vantagens: temos chance de ir compreendendo que o poder está nas nossas mãos. São os cidadãos, são as empresas, são as comunidades que tem de tomar a responsabilidade de agir melhor em vez de achar jeitos de tirar vantagem.
Temos de diminuir a expectativa no governo. Temos de depender menos do governo. Isto implica, provavelmente, diminuir o tamanho do governo e exigir que o serviço público funcione como deve.
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Parece que nossos antepassados, aqueles que imigraram para cá compreendiam isto melhor. Eles encontraram poucas facilidades. Mas foram capazes, por exemplo, de levantar as escolas que faltavam e foram capazes de acompanhar o que acontecia na escola. Eles organizaram a comunidade sem aguardar por verbas ou subsídios ou propinas. Foram à luta simplesmente. A fórmula de sucesso era singela: “ajuda-te que o céu te ajudará”, mas não perdeu a validade.
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Tomara que esta fase triste nos ensine alguma coisa. Tomara!