Falo de uma casa que respeita as pessoas e seu sonho, de uma casa que não se contenta em apenas parecer melhor do que debaixo da ponte.
Esse sonho, Getúlio Vargas começou a realizá-lo, mas ficou só no primeiro e imponente passo (Vila do IAPI – Porto Alegre); o BNH pretendeu ser o melhor caminho para chegar até ele, mas seu uso político inviabilizou-o; há indicativos, porém, de que o presidente Lula está disposto a percorrê-lo, com o objetivo de realizar vários sonhos ao mesmo tempo, num investimento com final apoteótico.
Vejamos juntos:
1 – Salta aos olhos que a melhor maneira de fortalecer o projeto é gerar empregos, uma vez que emprego é sinônimo de confiança própria, grandeza pessoal, dignidade. Não foi muito difícil para o Governo concluir que a área da construção civil é a maior geradora de empregos de quantas existem.
Como fazer para que ela seja acionada, correta e rapidamente?
2 – Bem, aqui junta-se a fome com a vontade de comer ou, se preferirem, o desabrigo com a vontade de morar. Sabe-se que não é nenhuma mania de grandeza projetar, por exemplo, a construção de 2 a 3 milhões de moradias, Brasil afora, para os próximos 10 anos – a grosso modo, os dois próximos anos de Lula, os 4 de seu sucessor ou sucessora e, eventualmente, os 4 adicionais desse(a), no caso de reeleição.
Arrisco um palpite: um total próximo a R$ 200 bilhões em 10 anos, ou seja, R$ 20 bilhões por ano, verba perfeitamente compatível com a real necessidade, especialmente se levarmos em conta que a origem do financiamento já está aprovada – será o FGTS, aliás, causa e conseqüência do crescimento.
Como assim?
3 – Aqui entra o cálculo a ser considerado: nos últimos 15 anos, o Brasil cresceu, em média, 3,5% ao ano (cálculo otimista). Como se sabe que para empregar 1 milhão e 700 mil pessoas – as que entram no mercado de trabalho anualmente – é necessário um crescimento de 5% ao ano, no mínimo, temos que a dívida do país, neste particular, anda ao redor de 22 milhões de empregos, na melhor das hipóteses.
Ora, um investimento de R$ 200 bilhões na construção civil, maior geradora de empregos do país, terá como reflexo imediato o fortalecimento do Caixa do FGTS, resultado de um expressivo aumento do recolhimento para o Fundo, garantindo e possibilitando o financiamento das casas contratadas, não é mesmo?
Havendo verba para construí-las, haverá comprador para habitá-las e assim sucessivamente, fazendo com que a roda da economia gire ao natural, certo?
Um exemplo do qual todos lembramos – e que não foi bom, o BNH – não funcionou porque foi implantado na época da economia inflacionada e, por uso político, o reajuste das prestações se deu muito abaixo do necessário, inviabilizando o projeto.
Daí, já se sabe que a maior obrigação do Governo será manter a inflação sob controle e reajustar as prestações anualmente, dentro de um percentual compatível com todos os bolsos e todas as necessidades.
Se o final for este, o sonho de cada brasileiro será plenamente realizado.
A Casa Própria ficará ao alcance de todos os bolsos, primeiro sonho satisfeito.
Os empregos serão criados e mantidos, segunda realização.
E Lula será mais popular do que Getúlio, terceiro sonho alcançado.
Viu-se, também, que o sonho de Vargas navegou por mares ditatoriais. Como todos sabem no que resultou, desse mal ninguém padecerá, certo?