Só Ele não precisa de defesa,
jamais coube a Ele o fim dos danos.
Não se culpe também a natureza,
culpados são alguns Seres Humanos!
Deu-se no Corcovado, a História jura
e registra o início desse drama;
mil toneladas, infinita altura,
desde lá, pelo Cristo o Brasil clama.
Foi presente da França a escultura
que tão logo erguida ganhou fama.
Como não admirar a formosura
que Landowsky criou e o Brasil ama?
Ocorre que faltou um componente,
único a demarcar Eternidade:
cimento e modelagem, o presente,
ao qual ficou faltando a Divindade.
Assim uma argamassa, de repente,
assumiu a responsabilidade:
século vinte, ano trinta e um, pra frente,
tornou-se a Protetora da Cidade!
Tomada ao pé da letra a investidura
ninguém levou a sério a prova vã.
Dezenove anos depois, em tarde escura,
se fez silêncio no Maracanã!
“Quem não faz, leva”, frase apropriada,
mas outra delas já estava por vir:
“Por morros de estrume e papelada
é só esperar que eles vão cair”!
“Extremo risco”, a tinta avermelhada,
quis, em dois mil e quatro, prevenir;
“Se não tem contenção, nem barricada,
só resta ao morro, despencar, ruir”.
Os resíduos de papel onde há lixo
têm presença de gás, todo momento,
à base do terreno – onde faz nicho –
explode e força o deslizamento.
Não é este, porém, o estopim,
tudo se dá no aterro original;
toneladas de lixo e mais capim,
formam a cobertura vegetal.
E a pobre gente, sem comida e abrigo
busca no alto monte seu socorro,
sem esquecer de carregar consigo
os parentes, também vítimas do morro.
Em Niterói, aterros sanitários,
aos dez anos transformam-se em lixões;
lá, o Morro do Bumba foi Calvário,
facilitando as execuções.
Há cinco anos a denúncia veio,
poucas casas havia ali, mais nada.
Por não conter qualquer pressão no meio,
foi mais uma denúncia engavetada.
Na gaveta do Prefeito está presente,
o documento que envolve metano,
um gás que polui o meio-ambiente
e agrava o efeito estufa todo o ano.
“Eu não sabia”, falou o Prefeito
de Niterói, com mortes e desgraça.
Se a incompetência é tanta, de que jeito
pedir a Deus que venha aqui e faça?
Já se sabia do drama anunciado,
já se sabia que morro desaba.
Já se deixava o povo angustiado
seguir no rumo pra onde a vida acaba.
Em três anos os morros soterraram
só no Brasil, meio milhar de vidas;
ninguém fez nada, vozes se calaram,
estavam sufocadas ou contidas?
Mas algo existe nesse entremeio
e deixa claro não ser pura sorte:
no Pan do Rio, quatro bi e meio,
gastou-se para promover o esporte.
Estes versos falando de tragédia
servem para mostrar o surpreendente:
muitas vezes, somos a Idade Média
e muitas vezes, Anos-Luz à frente!