Quando o pelotense Antonio Caringi, um dos grandes nomes da escultura gaúcha, usou Paixão Côrtes como modelo para o Laçador que se tornaria símbolo de Porto Alegre e, por que não dizer, do Estado, é certo que não o fez apenas pelo “tipo” representado por Paixão, mas também por sua trajetória.
Em agosto de 1947, Paixão Côrtes iniciou no Ginásio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre, um movimento composto de várias iniciativas, todas elas destinadas a valorizar as tradições do RS.
Era uma época em que a Bandeira Gaúcha ainda servia apenas “para disfarçar vidros quebrados em bares de categoria duvidosa”, ninguém conhecia o Hino Rio-Grandense e muito menos cantava, e por aí vai …
Até mesmo aqueles que ousassem sair à rua em trajes rurais (ou tradicionais, como se diz hoje) encontrariam bons motivos para se arrepender, começando por diversas vaias por onde que quer andassem até uma briga bem armada, tão logo encontrassem algum provocador de plantão.
O desfile Farroupilha começou neste mesmo ano de 1947, só que a 5 de setembro, “um desafiante gesto público” que Paixão e seus colegas do Júlio de Castilhos empreenderam pelas ruas da Capital. No próximo 20 de setembro, a iniciativa daqueles desassombrados estudantes estará completando sessenta anos e milhares de pessoas participarão dela no RS inteiro como protagonistas ou como espectadores.
Mas é preciso que saibam que o desfile só foi possível porque Paixão e sua turma do Julinho, não tiveram vergonha da História de um Estado heróico.
Paixão Côrtes conta: Agora, o momento histórico. Surgia uma sigla desconhecida na vida social brasileira: CTG, traduzindo uma entidade social, cultural e cívica diferente no Registro Civil, com o nome de Centro de Tradições Gaúchas. Nesta atmosfera, criei o Departamento de Tradições Gaúchas do Julinho, de cujo programa, sob minha direção, constava:
a) Realização de bailes gauchescos, com concurso de dança e trajes, hora de arte;
b) Concursos literários: prosa e verso;
c) Publicação de artigos, no jornal do Julinho;
d) Palestras culturais por intelectuais gaúchos;
e) Ronda gaúcha: assembleia, entre muitas outras atrações.”.
A Ronda Gaúcha, depois popularizada como Ronda Crioula foi oficializada em 1964 pelo Governo do Estado, passando a chamar-se Semana Farroupilha.
Nessa caminhada de progresso rumo à História, Paixão Côrtes criou, além da 1ª Ronda Crioula, o Candieiro Crioulo, o 1º Baile Crioulo e a Chama Crioula, que, bendita iniciativa, graças à penúria dos “cofres” de Paixão e sua turma, compunha-se de 1 cabo de vassoura, pedaços de um saco de aniagem em uma das extremidades, molhado em querosene e, pronto!
Paixão Côrtes resume um dos seus principais momentos de glória:
“Convidado para chegar ao topo da Pira, com botas, esporas e tudo o mais, subi uma íngreme escada com cerca de 6 metros de altura. Diante de mim, o Fogo Pátrio. O público fez silêncio, espontaneamente. Num gesto solene meu, estava acesa a Chama Crioula!
Uma ovação entusiástica se ouviu do povo!”
Com esta matéria, saúdo João Carlos Paixão Côrtes, Antonio João Sá de Siqueira, Ciro Dias da Costa, Fernando Machado Vieira, Orlando Jorge Degrazia, Cilso Araújo Campos, Cyro Dutra Ferreira, João Machado Vieira – os guris do Julinho – e Luis Carlos Barbosa Lessa, também do Julinho que, em 1948, foi o grande inspirador do 35 – Centro de Tradições Gaúchas.
A eterna gratidão dos gaúchos a cada um deles é a única forma de pagar uma dívida que não tem preço!