Participei pela primeira vez da caminhada dos chamados “Passeios na Colônia”. Já ouvira comentar sobre o projeto, mas faltava a oportunidade de me juntar ao grupo do Alício de Assunção – o criador do projeto e coordenador dos passeios.
Pois bem, a oportunidade surgiu no feriadão do início de maio. Foi uma estreia corajosa. Durante dois dias, andamos pelos municípios de Arroio do Meio, Capitão, Nova Bréscia, Coqueiro Baixo e Pouso Novo. O trajeto percorrido ficou próximo dos 50 Km. E dá-le estrada de chão com pedra e poeira…
Não precisei andar muito para descobrir que meu tênis não era apropriado. A planta do pé acusava o impacto do chão pedregoso. Confesso que no primeiro dia me perguntei várias vezes o que estava fazendo ali. Por que era mesmo que eu trocara a maciota do feriado por este esforço debaixo do sol? Eu não sabia o que responder.
Por sorte não desisti.
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Passado o cansaço inicial, torna-se possível apreciar a beleza das estradinhas do nosso interior. As paisagens são lindas, a companhia é agradável e as paradas, ah! as paradas são super bem-vindas. Se for em torno de mesa e comida, tanto melhor. Depois de horas andando, a fome ganha alvará de “legítima” e torna possível comer sem a ronha da culpa.
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O troféu da beleza da andança no primeiro de maio ficou com Pouso Novo. Nem sei descrever a descida que acompanha o Forqueta até a Barra do Fão. Formidável? Sublime? Deixa assim. É difícil achar o adjetivo adequado. Você vai ter de ver pra saber…
O fato é que quando a gente passa de carro não consegue apreciar a paisagem como ela merece. A velocidade do carro rouba a lição que dá a antiga igrejinha – para ficar só num exemplo. Com o cemitério do lado direito, a igrejinha resiste à rasteira do tempo. Ela abrigou batizados e bodas. Ela acompanhou a zoada da escola que uma vez tinha ali. Mas, por fim, também viu o pessoal ir passando para o espaço do lado direito. E viu muitos outros ir embora pra longe. A comunidade minguou. A igrejinha resiste. Ela revive os bons tempos no nosso olhar forasteiro.
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Não sei como vamos recompensar a iniciativa do Alício de Assunção. Chamar de visionária ainda é pouco. O Alício atirou no que via e acertou no que não tinha como enxergar. Ou seja, a iniciativa produz benefícios inúmeros e eu aqui nem estou me esforçando para lembrar todos eles. O certo é que os caminhantes ganham muito e, talvez mais ainda, as comunidades que recebem visita. As comunidades têm chance de mostrar e vender o que fabricam e colhem. Para além disso, elas esbanjam lições de vida em comum – um produto que anda escasso nas cidades maiores. Tenho certeza de que os elogios que recebem alimentam as virtudes locais e encorajam teimar nos valores antigos. Valores que, cá entre nós, são o último grito em qualidade de vida.