Se você já observou crianças brincando, sabe do que falo. Ao começar o jogo, as crianças combinam como vão brincar.
Quando brincam de esconder, por exemplo, definem qual o espaço em que é possível andar. Determinam quanto tempo aquele que procura tem de esperar antes de sair atrás dos outros. Estabelecem como se faz a troca entre quem procura e quem se esconde, etc. Depois, durante a brincadeira, acontecendo de alguém infringir as regras, dão em grito. Nos casos mais complicados o jogo fica suspenso até o grupo achar a maneira de desatar o embrulho.
Em geral, o brinquedo não tem chefe e nem precisa. O que pode acontecer é surgir um líder natural que conta com a aceitação dos demais e, por isto mesmo, facilita a tomada de decisões. O principal para a brincadeira funcionar é existir muita clareza sobre como brincar, sobre o que cada um pode ou não pode fazer.
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Por incrível que pareça, é mais ou menos esta a lógica que dá base para o último grito em administração de empresas: a chamada gestão sem gerentes.
Gerentes custam caro, aumentam o risco de más decisões, retardam o processo decisório e, não raro, privam os funcionários de autonomia – afirmam os admiradores da novidade.
A Morning Star Company é o exemplo que mais aparece quando se fala no assunto. Esta empresa americana vem se virando – e muito bem – sem gerentes há mais de duas décadas. Na Morning Star, que faturou mais de 700 milhões de dólares em 2010, ninguém é chefe de ninguém. Os trabalhadores negociam responsabilidades com seus colegas. Qualquer um pode encomendar um equipamento, por exemplo, e cada indivíduo é responsável por garantir as condições necessárias para desempenhar bem o seu papel.
Ao dar poder de verdade a todos, a empresa cria um ambiente em que cada um sabe o que tem de fazer e faz.
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Você pode estar pensando que esta forma de administrar é uma moda passageira, que vai desaparecer como tantas outras já desapareceram. Pode ser. Mas pode ser que não.
Observa-se no mundo desenvolvido uma tendência por considerar com mais cuidado as características e necessidades de cada indivíduo. Está em declínio a figura do mandachuva que conduz o rebanho ao seu bel prazer. Isto vale para a empresa, para a sala de aula e também para a família.
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Talvez esta nova mentalidade tenha relação também com o interesse por reservar a data de 15 de julho como o “dia do homem”.
Especialmente porque o homem que se homenageia agora não tem pinta de cacique. É muito mais aquele que sua a camiseta no jogo do que um temível poderoso chefão.