Hoje quero abrir espaço para o texto de uma guria de muito talento. Ela se chama Aline Lenz, é jovem, linda, mora em Lajeado. Escreve tão bem que lastimo não haver mais espaço para ela se mostrar. A Aline escreve com o coração à flor da pele e diz coisas de um jeito surpreendente.
Por enquanto, a Aline vai publicando seus mini contos em livrinhos que ela mesma monta em casa, em formato pequeninho, do jeito que dá, juntando cópias e prendendo as folhas com espiral. Tenho dois desses livrinhos. De um deles foram feitas 20 cópias; do outro, 25 cópias.
Em que pesem as dificuldades deste começo, tudo indica que a Aline tem futuro. Para ver se você concorda, vou copiar alguns dos textos que se encontram nos livrinhos. Lá vai:
Circo
Meu pai ensinou a sentar sempre perto da porta porque se o leão fugisse, a gente podia se salvar correndo.
Hoje os bichos que não habitam mais o circo correm dentro de mim e não há mais para onde fugir.
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Antes de ele chegar, eu repassava mentalmente as boas maneiras que não me habitavam, mas que naquela noite eu queria encenar.
Eu precisava lembrar de abrir a geladeira e oferecer um copo de coca.
Eu precisava não colocar os pés em cima do sofá.
Eu precisava não sentar em cima das mãos por medo de não saber onde colocá-las.
Então, ele chegou, abriu a geladeira e serviu ele mesmo um copo. Sentou no sofá e pegou uma cadeira para colocar os pés em cima. Pegou a minha mão e disse que ela era bonita.
Naquela noite, na minha casa, eu comecei a viver a vida que eu não precisava encenar.
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A gente sempre esperava o pai para almoçar. Naquela época, eu não esperava nada da vida, além de férias escolares. Naquela época, quem me esperava era a Flika, feliz no portão, uma alegria que o rabo não dava conta de abanar. Na espera, eu pegava o prato duralex cor de laranja e colocava na cara. Caminhava pela casa. O mundo ficava laranja e lindo. Dava fome. Das cores que eu não conhecia. A mãe xingava: vai tropeçar e cortar a cara. Hoje eu tenho saudades de não saber todas as cores. Hoje eu sei que para quebrar a cara, os pés podem não conhecer o tropeço. Hoje eu sei que quem me espera é o atropelo da vida, que não perdoa meu passo avoado.
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Se você gostou, pode se comunicar com a Aline pelo email aline.lenz@gmail.com. Quem sabe consegue adquirir um livrinho também.