A frase acima foi dita por Guido Fernando Mondin, em algum dia de 1918, quando já havia completado 6 anos de idade. A tia em referência, era sua tia mesmo (naquela época não se usava chamar de tia a quem não se conhecia) e, naquele momento, estendia a roupa que acabara de lavar, no varal do pátio da casa.
Quem examina a trajetória deste destacado político gaúcho, nem de longe imagina que ele possa ter sido o mesmo artista que pintou, com mãos e sensibilidade de mestre, dezenas de telas que eternizaram a epopeia dos Farrapos, hoje integrantes do acervo cultural e artístico da Assembleia Legislativa.
Isso, para não falar nas 14 Estações da Via Sacra (Igreja São Geraldo, em Porto Alegre), nas telas que estão em museus, em pinacotecas públicas e particulares de todo o país e em obras que enfeitam as paredes da própria Casa Branca e museus americanos.
Quando você leu “mãos de mestre”, algumas linhas atrás, você leu certo. Já saberá o porquê. Habilitado como “guarda-livros” em um curso noturno, Guido Mondin bacharelou-se em Ciências Políticas e Econômicas na PUC, tendo sido o orador da Turma.
Cursou o Instituto de Belas Artes, ainda em Porto Alegre, para logo depois (1947) concorrer a deputado estadual pelo PRP (Partido de Representação Popular), onde ficou como suplente, mas exerceu praticamente a maioria do mandato.
Mondin foi Prefeito em exercício de Caxias do Sul, deputado estadual, deputado federal, senador da República pelo Rio Grande do Sul e Ministro do Tribunal de Contas da União.
Paralelamente à política, desenvolveu sua vocação artística na pintura, na literatura e na poesia. Ocupou a cadeira número 4 da Academia Brasileira de Artes, a número 20 da Academia Brasileira de Belas Artes e a número 33 da Academia de Letras de Brasília.
Foi Membro Correspondente do Instituto Americano de Cultura, de Buenos Aires. Suas obras, títulos e condecorações sobem a várias dezenas e dele se deve dizer que sempre buscou inspiração nos seus temas prediletos: o gaúcho e o religioso.
Tudo bem, mas e o porquê das mãos? Ele não pintava só com uma mão?
Não! Já mais perto do fim da sua exuberante vida, Guido Mondin sofreu um derrame que imobilizou todo o seu lado direito, mas não desistiu. Passou a pintar seus quadros com a mão esquerda e costumava brincar com a situação: “Acho que foi castigo. Eu que sempre fui de direita, pintar com a mão esquerda…”.
Confessou, certa vez, que seu modelo preferido era Bolinha, seu cão de estimação. Que, arrisco dizer, aparece ao lado de Bento Gonçalves, em uma das telas sobre a Revolução Farroupilha.
Guido Mondin faleceu a 20 de maio de 2000, em Brasília. Certamente, não foi de tédio.