Todas as pessoas que viajam para a Europa chegam de volta invejando a consciência ecológica que campeia lá. Constatam, por exemplo, que nenhum supermercado faz a farra de sacolas plásticas que nós aqui fazemos. Se o cliente não levar de casa um recipiente, na saída vai ter de comprar alguma coisa para carregar as compras. Resultado: você olha o pessoal na fila junto ao caixa e vê que todo mundo empunha uma velha sacola de guerra. Está bem, quase todo mundo. Mas como é que eles conseguem realizar essa façanha?
Se nós queremos chegar ao mesmo patamar, talvez nem seja necessário estudar o livro dos milagres. Estratégias simplesinhas podem funcionar também.
Tudo começa, claro, pelo propósito real e verdadeiro de diminuir os plásticos em circulação. Depois disso vem a prática. Sou testemunha de uma fórmula que era tiro-e-queda. Vi a mesma sendo empregada na região do sul da França, no tempo em que lá morei, faz alguns anos. E empregado assim, como se fosse nada, com o “savoir faire” em que franceses são especialistas.
Eis a cena. Você acabou suas compras no supermercado e está parado junto ao caixa. O funcionário passa os artigos pela máquina e deposita do outro lado do balcão. Num certo ponto, que remédio, é hora de confessar que você está sem a sacola, que precisa comprar sacolas plásticas ou não vai ter jeito de levar as coisas para casa.
Primeiro movimento: o caixa torce o nariz com fulminante indignação. O ardor do seu olhar não seria maior se fosse para cantar “a Marselhesa” – o hino nacional francês. Segundo movimento: o funcionário deflagra a operação para cobrar as tais sacolas. A má vontade é clamorosa. Por alguma razão, ele tem de acionar um sistema à parte, que é complicado e leva tempo. Você fica plantado ali e espera. Quanto mais espera, mais constrangido fica. Não é apenas você que espera. A fila inteira espera. Ninguém diz nada, mas o silêncio grita. O silêncio de toda fila atira palavrões nas suas costas.
O caso é que a falta de uma sacola não implica apenas gastar dinheiro comprando plásticos. A falta de uma sacola gasta a sua paciência e a dos outros. Enfim, você some porta afora como se fosse o último dos moicanos.
Mas o vexame surte efeito. Nunca mais você esquece de levar uma sacola, quando for ao super. E se esquecer, volta – ah! volta – nem que já esteja na metade do caminho.
Moral da história: há mais esperança no pedaço do que sonha a maltratada ecologia.