Estive visitando a feira do livro em Porto Alegre. Ao que consta, a feira está menor em 2016. Dizem que a crise desencorajou muitos expositores tradicionais. Não sei. Para o meu gosto está de bom tamanho. Aliás, passa do tamanho.
Minha visita aconteceu sem pressa. Tirei o tempo para bisbilhotar as prateleiras nobres tanto como para vasculhar caixas com saldos a preço de banana. Tinha muita coisa sendo vendida a preço de banana, inclusive um livro meu estava no balaio por três pilas.
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Olhei muito e comprei pouco. Pelo tamanho reduzido das sacolas que vi na mão dos outros, parece que muita gente fez a mesma coisa.
Acontece que a facilidade de comprar livros novos e usados pela internet tira um pouco da atração das feiras. Além do mais, os preços não aparecem como o diferencial. Ao que lembro, anos atrás havia descontos que tornavam a feira muito mais convidativa. Hoje comprar ali ou nas livrarias ou encomendar de casa mesmo deixa a conta quase igual.
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Em favor das feiras está o fato de botarem as surpresas diante do nariz. Por exemplo, achei um curso de pintura em aquarela que me deslumbrou e alguns clássicos que nem lembrava que queria ler. Para crianças descobri também uma ou duas maravilhas. Aqueles livros que reúnem uma ilustração de qualidade com um texto idem. Livros que não são para ensinar, mas para atiçar a imaginação. Livros infantis que encantam também adultos são preciosos, mas – procurando bem – a gente vê que existem, sim.
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De tudo me ficou uma sensação incômoda. Fui além do maravilhamento com as surpresas boas. A sensação ultrapassou a alegria de circular no ambiente carregado de ideias. O que bateu foi certo mal-estar e pressa.
Minha nossa, com tanta coisa já me esperando em casa para ler, como é que eu fico borboleteando entre mais coisa para ler?
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Fiz uma conta desanimadora. A média de leitura é um livro por semana. Isto representa pouco mais do que cinquenta livros cada ano. Cinquenta! Em dez anos são quinhentos. Mas o que é isto diante de tudo o que existe? Só contados os países importantes, mais de um milhão de livros são publicados por ano. Por ano! O Brasil sozinho lança cerca de 20 mil entre novos e reeditados. Veja só. Para ler o que se publica num ano no Brasil é preciso gastar quase uma vida inteira.
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O negócio é voltar pra casa e se atirar nos livros, pela mais rasteira das razões: diante de tanto para ler uma vida é, simplesmente, muito pouco. Muito pouco.