Ao tomar meu lugar no avião em Havana, na viagem de volta para o Brasil, voltou à memória a canção que faz sucesso desde o ano de 1968. Refiro-me a “Quando salí de Cuba”, na voz de Luis Aguilé. A estrofe do refrão dizia assim:
“Cuando salí de Cuba
dejé mi vida dejé mi amor.
Cuando salí de Cuba
deijé enterrado mi corazón.”
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Para ser honesta, minha sensação não era essa no momento da partida. Eu estava até bem satisfeita em partir.
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Fui a Cuba com o grupo da Arroiotur. Viajamos logo depois da morte de Fidel Castro e retornamos ao final dos dias de luto. Para quem tinha uma curiosidade antiga por Cuba e pela revolução, foi uma coincidência e tanto estar lá exatamente nesse período. Tornou possível acompanhar ao vivo a emoção do momento e assistir pela TV local à transmissão das homenagens ao líder morto. Aliás, assunto único em todo o tempo da nossa permanência na ilha. Quero dizer, a TV não falou de absolutamente nenhuma coisa além da morte de Fidel, dia e noite. A vida parou nesses dias.
De outra parte, a estadia sofreu algum prejuízo. Certas ruas de Havana ficaram fechadas para o trânsito e a Praça da Revolução – um dos locais mais frequentados pelos turistas – ficou tomada por filas quilométricas dos cubanos que iam prestar sua homenagem às cinzas de Fidel. Igualmente, não pudemos ter contato com a exuberante música local. Acontece que todas as apresentações, todos os bailes, todas as festas foram suspensos durante os nove dias de luto. E, ao que se saiba, não houve desobediência.
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Não sei bem o que dizer sobre Cuba e sobre o regime socialista que lá foi estabelecido há quase cinquenta anos, desde a revolução encabeçada por Fidel Castro. É mesmo difícil tirar conclusões sérias com poucos dias de visita.
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Visivelmente, os maiores ganhos dos cubanos se deram no terreno da saúde e da educação. Há escola e acesso à saúde para todos – o que não é pouco, convenhamos. A segurança é outro ponto forte. Não é preciso ter medo de assalto nem nas áreas mais degradadas da Havana antiga. Na parte nova, a cidade tem avenidas largas e partes muito bonitas, como aquelas que ficam junto ao mar. As rodovias que utilizamos eram modernas e bem conservadas.
Fora isto, Cuba parece muito pobre. As comunicações são precárias. Os turistas têm de comprar internet à base de dois Euros por hora e – detalhe – sem garantia de que vai funcionar de fato. Nem de longe pense em encontrar algum supermercado parecido com os nossos. Nem de longe. O serviço de atendimento ao turista é fraco e os preços, bem salgados.
Em resumo: quando saí de Cuba, não deixei enterrado lá o meu coração.