Pouca gente se reconhece preconceituosa. Achamos que é feio ter preconceito.
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O dicionário diz que preconceito é a ideia, opinião ou sentimento desfavorável adotado de forma apressada, sem o conhecimento ou a reflexão necessária.
Em geral o preconceito brota de uma experiência pessoal negativa que, por ser particular, não poderia ser generalizada. O preconceito é também apreendido. Ou seja, nós ouvimos dizer bem ou dizer mal e vamos dando aos julgamentos o status de verdade comprovada. Podemos incorporar preconceitos sem mesmo notar.
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Por exemplo:
Vamos à casa de alguém e achamos que o pessoal ali não dá bola pra arrumação. Saímos taxando os caras de “relaxados”. Nem passa pela cabeça que aquela desarrumação pode ter sido acidental. Também não passa pela cabeça que a bagunça pode ter algum propósito, pode estar marcando a transição de um tipo de padrão para outro ou que pode ser uma escolha deliberada que agrada quem a faz, etc.
Outra hipótese:
Vamos à casa de alguém e achamos que o pessoal ali é certinho demais. Saímos pensando que são pobres de espírito. Nem passa pela cabeça que isto e que aquilo. Etc.
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Os exemplos acima se aplicam a situações aparentemente inofensivas. Mas são embriões de preconceitos.
Que tal olhar para a expressão “bandido bom é bandido morto”, que resume muitas das opiniões em relação aos recentes massacres nos presídios? Não estaria aí também um exemplo de preconceito?
O preconceito é útil porque dispensa de pensar. No caso dos presídios, deixamos de observar que a palavra bandido pode ser um rótulo geral inadequado. Deixamos de observar que, no caso, se entrelaçam várias questões muito difíceis de tratar. Deixamos de acender uma vela para cada “santo” implicado: uma vela para a displicência generalizada com a coisa pública, com o sistema prisional, de modo particular; uma vela para o desafio de lidar com o crime e o castigo; outra vela para os fatores que encorajam a transgressão, etc… Em vez disso, preferimos nos ver livres do assunto com uma bordoada só: “bandido bom é bandido morto” e estamos conversados.
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Esquivar-se de pensar é uma tentação. Botar rótulo nas pessoas e nas situações, quase irresistível. Temos tendência a condenar hábitos e comportamentos que não coincidem com os nossos. Gostamos de nos colocar na fila dos bons e ver os diferentes na fila dos maus – e estes que se danem. A gente sempre acha que sabe melhor. A gente sempre acha que tem razão. E adoraríamos que todos concordassem com isso.