Dias atrás, enfrentei trânsito especialmente ruim. Foram três percalços numa só viagem. A chateação teve o agravante do calor e da vontade de chegar.
Na primeira vez, foi necessário apenas reduzir a marcha. Na segunda, entrou o sistema de parar e andar, pois a pista ficava liberada alternadamente para cada mão. Na terceira, já mais perto do destino, o bloqueio foi total. Não observei no relógio o tempo que fiquei parada. Pode ser que nem tenha sido tanto, mas pareceu uma eternidade.
Sem ter ideia do que estava acontecendo, sem saber quanto tempo demoraria na estrada, o primeiro impulso era escapar. Quem sabe, dar meia volta e retornar? Mas, me contive. Voltaria a cair nos mesmos gargalos já vencidos antes.
Não podia ir, não podia voltar.
A sensação era de ter sido pega em armadilha, de ter virado prisioneira.
O que podia fazer, além de nada?
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A experiência teve seu lado interessante. A imobilidade forçada – e indesejada – estimulou o pensamento. Só mesmo a cabeça continuava em condições de andar.
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Pude sentir o impacto negativo que o aprisionamento tem.
Às vezes se diz que a cadeia é um prêmio, casa e comida grátis, quase um hotel. Até pode ter algo disso, mas a perda do direito de ir e vir é castigo tamanho extra large. A frustração que experimentei ao ver que os meus planos tinham ido pras cucuias permitiu imaginar o que é estar impedido de mandar na própria vida por um período maior do que uma tarde.
Para além disso, foi proveitoso recordar que às vezes não se pode fazer absolutamente nada. Gritar, chorar, xingar, não adiantaria bulhufas. Aliás, se fosse para xingar, xingaria quem? Os acidentados que causavam o transtorno, coitados deles, estes sim é que estavam na pior.
Pude experimentar a paciência no concreto. Se quisesse fazer alguma coisa boa, que tentasse me acomodar no limite do momento. Sem raiva, sem ansiedade, sem angústia. Apenas me rendendo aos fatos.
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Estou contando a história na tentativa de usar o limão para uma limonada. O caso é que a vida oferece repetidas situações desse calibre – só que mais intrincadas do que a lentidão no trânsito.
Todos queremos que as dificuldades desapareçam do caminho, no estilo dos filmes de Hollywood. Ou seja, que os problemas se dissolvam e que sejamos felizes para sempre. Queremos felicidade aqui e agora e o tempo todo. Mas a chance de acontecer assim é pra lá de escassa.
De modo que, contrariando os apressadinhos entre os quais me incluo, cheguei à brilhantemente óbvia conclusão de que a paciência não caiu de moda, embora a pressa de hoje em dia pareça sugerir.
A paciência pode – no mínimo – não piorar aquilo que já é ruim por si.