“Só sei que nada sei” é afirmação atribuída ao filósofo grego Sócrates. A frase vem resistindo à passagem dos séculos, cada dia mais verdadeira.
Ao menos para mim.
Diferente do que eu pensava quando jovem, a idade vai aumentando o campo do desconhecido. Não apenas por conta das novas descobertas ou do volume de conhecimento que cresce de forma exponencial. Também pelo fato de que a maioria das certezas que eu tinha foram se dissolvendo ao longo dos anos. Sobraram quase só dúvidas.
Aliás, quando ouço expressões do tipo “com toda a certeza”, tiro o chapéu. Só corajosos consegue dizer coisas assim.
Por outro lado, fico imaginando se a vontade de ter certezas não seria maior do que a possibilidade real de ter certezas…
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Não me refiro apenas a coisas sérias. Até trivialidades podem surpreender. Eu não paro de descobrir como é possível pensar melhor e de um jeito fora do meu costume.
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Aqui vai um exemplo.
Há dias fui convidada para uma solenidade. Sabendo que o espaço de estacionamento era escasso, resolvi chegar bem cedo e garantir minha vaga. Tão cedo cheguei que pude escolher onde parar o carro. Ufa! O plano funcionou e eu me dei os parabéns.
Como sobrasse tempo, fui me acercando de outros que estavam igualmente adiantados e conversavam próximo à entrada. Tive, então, a chance de pegar um relato que… que me deixou de cara no chão.
O seguinte: a pessoa contava que tinha passado anos em um país do norte da Europa e de lá trouxera um certo costume que aplicava agora, aqui, como no dia de hoje, quando havia tão poucas vagas junto ao local da cerimônia.
Assim: sempre que chega cedo para participar de um evento – dizia – estaciona longe. Arregalei os olhos. Exatamente o contrário do que tinha feito. Estaciona longe – a pessoa continuava a falar – para deixar os lugares próximos livres. Deste jeito aqueles que não conseguem chegar com antecedência não terão transtorno. Se tiverem de estacionar muito longe, perderão parte da sessão. E quem chega cedo – por sua vez – dispõe de tempo suficiente para caminhar um pouco desde o local onde deixou o carro.
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Confesso que fiquei com vergonha. Primeiro porque nunca me passou pela cabeça pensar desta forma. Segundo, porque fico imaginando quantas sacadas desse tipo me fazem falta…
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Só sei que nada sei.