Viajei aos Estados Unidos na outra semana. Foi um certo alívio ficar por fora das manchetes da política nacional por alguns dias. Nossa situação é angustiante e, pior, parece faltar muito para o fim do túnel.
Durante a estada fora não ouvi nada sobre a Lava-jato. Nem em jornais nem nas conversas que mantive. O fato é que cada país tem complicações próprias suficientes. Não é preciso ficar espiando as encrencas em que os outros estão metidos.
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Se a impressão que colho estiver certa, o clima está mais para otimismo do que o contrário, nos Estados Unidos. O nível de emprego continua subindo e as expectativas para a economia, idem. As pessoas com quem conversei apostam no governo Trump. A imagem que têm dele é muito melhor do que esta que nos chega pelos meios de comunicação.
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Os Estados Unidos são um país de imigrantes. Isto é algo que se confirma a olho nu. Muitíssimo mais do que no Brasil, observam-se rostos com traços variados, peles de todas as tonalidades, aparência nitidamente indiana, vietnamita, africana, etc. Os restaurantes comprovam isto. Há opções de temperos vindos de toda parte. Brasileiros, inclusive. No caso do Brasil, ao que vi, se trata sempre de churrascarias: Fogo de Chão, Chama Gaúcha, nomes assim. No caso dos restaurantes administrados por famílias imigrantes, eles propiciam empregos para os parentes e amigos, que trabalham duro seja no salão ou na cozinha. Trazem o melhor da culinária do país com a necessária adaptação ao paladar local. Por exemplo, pimenta demais não pode. Como são empreendimentos familiares, costuma ser muito barato comer ali – além de muito bom, claro.
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Tive o prazer de conhecer uma americana que imigrou com a família para os Estados Unidos, quando tinha 2 anos de idade. Chama-se Roopal Yadavs. Ela estudou na Universidade de Harvard e seguiu uma bem sucedida carreira na área do Direito. Pois bem, a certa altura, Roopal passou a colaborar com uma organização que leva jovens com ascendência indiana para trabalhar como voluntários por um ano em zonas pobres da Índia. O objetivo é que eles vivam como os indianos e aprendam mais sobre a cultura dos seus antepassados, ao mesmo tempo em que ajudam.
A conversa com Roopal me deixou impressionada. Ela não acredita nos programas que mandam dinheiro para os países pobres e dá um exemplo. Uma rica organização doava instalações sanitárias para os pobres na Índia. Essa organização contabilizava seu sucesso através do número de banheiros construídos. O que não sabia é que logo que seus agentes viravam as costas, os pobres que tinham recebido o banheiro voltavam a fazer as necessidades ao ar livre. Não sabiam usar os banheiros e não viam o menor sentido em mudar um costume de séculos
Dar dinheiro é fácil – explicou Roopal – o difícil é mudar a cabeça das pessoas. O difícil é criar lideranças boas e despertar o gosto por aprender.
Vale para o caso dos indianos e vale para nós também.