Conhecida como BR 386 ou Estrada da Produção em razão do grande número de veículos de carga que nela circulam transportando grãos, a rodovia Governador Leonel de Moura Brizola liga a região metropolitana ao Noroeste gaúcho. Além de grãos, pela rodovia são transportadas riquezas das mais diversas áreas: indústria, comércio, pecuária, entre outras. Porém, entre os meses de março e abril o fluxo de veículos de carga aumenta consideravelmente em razão do escoamento de milho e soja, provenientes de diversas regiões do Rio Grande do Sul e de até de outros estados a exemplo do Mato Grosso do Sul.
Além de potencializar o risco de acidentes com o tráfego intenso, que aumenta em torno de 10%, existe outro problema: o excesso de peso que danifica a rodovia e consequentemente a durabilidade do pavimento. Também prejudica o veículo que com excesso de peso consome mais combustível, sem falar no desgaste irregular de pneus e outros componentes.
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) pouco pode fazer no que se refere ao excesso de peso porque faltam balanças ao longo dos 455 quilômetros de rodovia. Quando há suspeita de peso superior ao permitido, os patrulheiros utilizam balanças particulares da região. Entretanto, a falta do equipamento gera a sensação de impunidade, o que favorece a prática. “Você saber que não será fiscalizado é um alimentador da ilegalidade”, explica o inspetor-chefe da 4ª Delegacia da PRF (4ª DPRF) de Lajeado, Ronaldo Becker Brito.
Com um espaço em frente à 4º Delegacia destinado ao equipamento, Brito diz que a possibilidade de instalação pode ser viabilizada com a concessão da rodovia, o que trará uma série de benefícios não só a condutores, mas a toda a sociedade. “Este tema foi amplamente discutido pela comunidade do Vale do Taquari. Acredito que este ano o projeto para o término da duplicação saia do papel. Porém, quero deixar claro que não somos contra ou a favor dos pedágios. Somos a favor da duplicação”, frisa o patrulheiro que complementa, “precisamos de alguém ligado à política, autoridade política, que abrace a causa. Não temos ninguém em prol da duplicação, o que me causa estranheza”, lamenta.
Após as eleições
Opinião contrária possui o presidente da CIC Vale do Taquari, o empresário Ito Lanius que acredita que a duplicação entre Lajeado e Iraí deve ficar para depois das eleições, que ocorrem em outubro. A razão, segundo ele, gira em torno de uma discussão política que diverge entre a implantação ou não das praças de pedágios.
Por outro lado, acredita que o restante da duplicação da BR 386, entre Lajeado e Iraí, só sairá do papel através da iniciativa privada. O motivo é a falta de recursos do governo federal que vem paralisando obras em todo o país. Nesse sentido vê a concessão da rodovia à iniciativa privada como a única saída para o desenvolvimento econômico da região. “Toda via reforço a afirmação que não somos a favor nem contra a instalação de praças de pedágios e sim a favor do desenvolvimento. Hoje nosso custo com logística é de 20%, enquanto que nos países desenvolvidos gira em torno de 6,5%. A duplicação nos tiraria dessa situação limitada que vivemos hoje”, finaliza.
Custo 18% maior
Da mesma linha de pensamento compartilha o presidente da Vale Log, Adelar Stefler, que revela que o custo de transporte de mercadorias e grãos é 18% maior em rodovias de pista simples. Na expectativa da duplicação, cita vários fatores que contribuem para a diminuição dos custos de transporte. “Em rodovias duplicadas o trânsito flui melhor e consequentemente o consumo de combustível é menor. Dessa forma economiza-se também outros componentes do veículo, que são utilizados com menor frequência a exemplo de câmbio e freios”, exemplifica e complementa: “sem falar na agilidade do transporte que é realizado em menor tempo.”
No TCU
A presidente do Conselho de Desenvolvimento Regional do Vale do Taquari (Codevat), Cintia Agostini, explica que o projeto de duplicação trata do trajeto entre Lajeado e Carazinho e não até Irai. Lembra também que a BR 386 integra um projeto chamado de Rodovia Integração Sul que é formado por quatro rodovias federais que serão licitadas juntas, são elas: BR 386, BR 290 (freeway), BR 448 (Rodovia do Parque) e BR 101.
Cintia diz que o projeto está em análise no Tribunal de Contas da União (TCU) onde está sendo estudado pela área técnica para posterior votação. Ela revela que há notícias que o TCU elaborou um relatório minucioso no que se refere às questões técnicas. Acredita também que passados os entraves burocráticos a obra saia do papel, ainda esse ano, mais precisamente na segunda metade do segundo semestre. “Acho que tudo se confirma ainda esse ano”, aponta.
Mais importante e mais perigosa
A rodovia mais importante do Estado também é a mais perigosa. Os pontos críticos são os trechos urbanos e a serra de Pouso Novo, locais onde acontecem a maioria dos acidentes. Na última semana um veículo de carga tombou na serra de Pouso Novo, uma pessoa morreu. Na quarta-feira outro acidente foi registrado também na serra de Pouso Novo. Desta vez um caminhão carregado de chapas de compensado tombou espalhando a carga sobre a pista, porém ninguém se feriu gravemente.
Ao contrário do número de acidentes que teve redução na comparação entre 2017 e 2016 o número de mortes aumentou na área de abrangência da 4º Delegacia. Foram 830 acidentes em 2016 contra 649 em 2017, ou seja, 181 acidentes a menos. Entretanto, o número de mortos nesses acidentes teve um aumento, passando de 42 em 2016 para 50 em 2017.
Excesso de peso: ilusão
Com 45 anos de estrada, Ermilo José Pretto, de Pouso Novo, é um caminhoneiro experiente. Transportando milho de Carazinho para Arroio do Meio, diz que não trafega com excesso de peso por questões de segurança e ainda porque as empresas e cooperativas não toleram tal prática. “Se eu carregar a mais a empresa não libera a nota”, explica.
Porém, revela que o excesso de peso é constatado quando os caminhões são carregados diretamente na lavoura. Nesse caso uma carreta que por lei pode transportar 32 toneladas, excede o peso em mais de dez mil quilos, danificando a malha viária.
Por outro lado, explica que a vantagem no excesso de peso é ilusão, em razão dos problemas que a prática pode causar ao veículo. “Com excesso de peso o consumo de combustível aumenta consideravelmente. Enquanto faço 2 km por litro, com excesso de peso a média cai para 1,7. A vida útil dos pneus também diminui de 100 mil quilômetros para 50 mil quilômetros”, expõe.
Sobre a deterioração da rodovia causada pelo excesso de peso culpa os bitrens, combinação de veículos de carga articulados, (caminhão trator trucado mais dois semirreboques), que por lei podem transportar 54 toneladas, mas que com excesso de peso pode chegar a 74 toneladas no conjunto. “Isso sem contar a tara do caminhão. Esse tipo de veículo não poderia ser liberado”, cita.
Mapa rodoviário
Brito fala ainda que a malha rodoviária pavimentada do Estado é de aproximadamente 14 mil quilômetros. Pouco menos da metade é de responsabilidade federal, e destes, aproximadamente 300 quilômetros são duplicados o que remete a 5% do total, representando uma percentagem muito baixa. Lembra que 100 destes quilômetros estão na BR 386 o que coloca essa rodovia entre as mais importantes do Estado. “A duplicação colocará a região em outro patamar, trazendo desenvolvimento e o mais importante, reduzirá o número de acidentes”, sentencia.