Fui ver “The Post – a guerra secreta”, um dos concorrentes ao Oscar de melhor filme neste ano. A história ali contada gira em torno da dificuldade que o jornal americano The Post tem para decidir se divulga ou não documentos secretos do governo. Os documentos são relatórios sobre a guerra do Vietnam, que estava em andamento naquele ano de 1971. Esses relatórios demonstravam que a guerra era um fracasso, ao contrário do que o governo queria fazer acreditar.
Qualquer que fosse a decisão – publicar ou não publicar – ela teria grande impacto sobre o jornal. Simplificando, poderia aumentar-lhe o prestígio ou poderia determinar sua ruína. Como se sabe, é crime publicar segredos de Estado. Por outro lado, muita gente estava morrendo na guerra e a publicação dos documentos poderia ajudar a apressar o seu fim.
Como se vê, “The Post” é um filme feito a partir de uma ótima história, própria para gerar suspense. Mesmo assim, não me entusiasmou muito. Acabei achando justo que não levasse o Oscar. Acontece que apresenta os fatos de forma meio confusa. Até me dei ao direito de uma cochiladinha na primeira parte. Mas…
Mas há várias razões que recomendar o espetáculo. Uma delas é a atuação magistral de Maryl Streep interpretando Catharine Graham, a dona do jornal. Outra, são os debates travados entre as personagens, que fazem brilhar ideias.
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Fica muito claro que a liberdade de pensamento e a manifestação de opinião estão na base da democracia. As pessoas não pensam de modo igual. A realidade tem muitas faces. De modo que a divergência tem a capacidade de produzir resultados mais satisfatórios.
De outra parte, cabe reconhecer que o poder embriaga. Quem está no mando adora achar que sabe o que é melhor para os outros. Qualquer manifestação em contrário é um estorvo. Decidir sozinho é mais cômodo e dá uma maravilhosa ilusão de onipotência.
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Numa democracia, os meios de comunicação têm o indispensável papel de trazer a público outras vozes, além da voz dominante.
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Outro aspecto notável: a história do filme mostra uma mulher na chefia de uma grande empresa. Ela chegou ao posto por circunstâncias inesperadas e já numa idade madura. Obviamente desconhece as manhas desse ninho de cobras. Desnecessário dizer que, além de tudo, paira grande desconfiança sobre sua capacidade de gestão.
Mas a dona do jornal tem uma insuspeitada capacidade de discernimento, a qual não está baseada na retórica dos seus advogados. Ela se move simplesmente pelo que parece justo. Decide publicar os papeis secretos e justifica: “um jornal tem que servir antes aos governados do que aos governos”.