1958 – Suécia
As lembranças são difusas. Seria um domingo de tempo frio. Vários adultos ao redor do rádio, na sala de jantar da nossa casa. A palavra “Suécia” vai sendo inaugurada no meu vocabulário. Que palavra estranha! O pessoal em concentração máxima, fazendo esforço para entender alguma coisa. A transmissão radiofônica é péssima. Eu achando que é sinal de uma grande tempestade aquele barulho que interrompe a fala do narrador, na tal “Suécia”.
1962 – Chile
Olho fotografias em um exemplar da revista O Cruzeiro. Pelé sentado na beira de uma piscina, em repouso, enrolado numa toalha branca. Ele sorri, mas está fora da Copa, depois da primeira partida. Fotos de Zagalo e de Amarildo, na mesma reportagem.
1970 – México
TV a cores, um luxo! A família toda na frente da TV. “Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, Brasil, salve a seleção!” É a final contra a Itália: 4 a 1. Urra! Euforia total.
2002 – Japão
O Brasil joga a final com a Alemanha. Eu, fora do país, em um aeroporto, aguardando para seguir viagem. Como saber o andamento da partida? É aí que noto uma aglomeração em torno de uma tevezinha, tão pequenininha que parece de brinquedo. Chego mais perto. Isto mesmo! A final da copa na tevezinha que transmite em espanhol. Fico ali tentando enxergar alguma coisa. O segundo tempo inicia. Dali a pouco um a zero para o Brasil. Não tem como segurar a emoção e eu puxo papo com pessoas ao lado. Quando descobrem que sou brasileira, é uma festa. Abrem lugar, para que eu veja melhor o segundo gol. No fim, recebo parabéns como se tivesse também jogado. Viva o Brasil!
Rússia, 2018
Estreia do Brasil. Uma grande expectativa na tarde gelada. A temperatura é baixa, mas tenho menos frio do que naquela longínqua tarde de 1958 – quando primeiro ouvi duas palavras novas: “Pelé” e “Suécia”. Agora, embalo o Pedro Henrique. Tenho no colo o neto recém-chegado. Ele dorme quietinho junto ao meu peito. É grande e lindo. Dorme sem saber de nada. Não tem noção do nervosismo da torcida. Desconhece as aflições dos brasileiros. Nem imagina que andamos tão necessitados de alegria.
Dorme, Pedro Henrique, dorme! Tomara que a próxima Copa nos encontre juntos. Tomara que, então, o coração brasileiro esteja forrado de esperança. Uma esperança do tamanho do teu futuro, Pedro Henrique!
Por enquanto, dorme. Dorme, menino, dorme!