Nesses dias ouvi uma frase surpreendente. A entrevistada era uma pessoa de meia idade, daquelas bem-humoradas, ativas, com quem todo mundo gosta de estar. Pois é, quando lhe perguntaram como conseguia manter essa vitalidade, a resposta foi:
– Se posso escolher, sempre escolho fazer o que ainda não sei.
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Levei um susto. O comum é a gente não se arriscar. Nem tentar uma nova forma de fazer chimarrão. Muito menos, aprender um passo de dança. Não se aventurar em viagem sozinho. Só gostar daquilo que a gente já gosta. Melhor deixar como está. O seguro morreu de velho.
Por um lado, temos toda a razão. As aventuras já levaram muitos exploradores à breca e nós conhecemos inúmeros casos. Inventar moda pode ser o caminho mais curto para… o brejo.
Pode.
Mas também pode ser o contrário.
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Nada na vida é muito seguro. Nem de longe é tão seguro como desejaríamos que fosse. Vida é mudança. Nada dura pra sempre. O esforço para proteger os pequenos, por exemplo, não os livra de tombos. E chega sempre a hora de chorar, àquela hora em que nem pai nem mãe adianta…
Pode ser que, no fundo, esta vontade de deixar tudo assim como está seja reflexo de um fundo pavor. O pavor do desconhecido – aquele que está aguardando ao final: a grande, a derradeira mudança. E parece que ficar quietinho, quietinho, seria o jeito de não ser jamais encontrado.
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Mas, enquanto a gente está aqui, em vez de tentar se esconder, fazer o oposto. Convidar-se a participar do banquete da vida, em todas as suas formas. Ter o peito de caminhar para além dos limites.
Como o entrevistado mencionado no início – podendo escolher – escolher o que a gente ainda viu, ainda não fez, ainda não sabe.