Hoje se comemora ao dia do amigo. A festa não tem a mesma pompa de outras. Nem parece que é tão importante quanto é.
Amigo é patrimônio que a gente conquista na vida. A qualidade dos amigos é, no meu entender, uma boa maneira de medir o sucesso que alguém conseguiu alcançar. É claro que não estou me referindo a esses amigos que só se encontram de raspão no facebook e que a gente pode ter às centenas. Falo daqueles que se importam conosco, daqueles que nos socorrem em dificuldade, daqueles que acrescentam sabedoria para a nossa vida.
Montaigne, importante pensador francês, fala da amizade com conhecimento de causa. Manteve durante anos uma aproximação profunda com Étienne de La Boétie. Mas quando indagado sobre a razão de tal afinidade, só conseguiu encontrar a seguinte definição: “por que era ele e por que era eu”. Ou seja, há uma reciprocidade no afeto que não se repete facilmente. “Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves” – como canta Milton Nascimento em “Canção da América”.
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Fernando Pessoa escreveu um pelo poema, o “Poema do amigo aprendiz”, que eu reproduzo agora como homenagem aos amigos do peito. Estes que temos agora e todos os que ainda vamos conquistar pelos anos vindouros.
POEMA DO AMIGO APRENDIZ
Quero ser teu amigo. Nem
Demais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar
Na tua vida.
Da maneira mais discreta que eu souber.
Sem tirar-te a liberdade, sem
Jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de
Falar.
Nem ausente, nem presente por
Demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é
Tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de
Lembranças,
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias.