“Prisioneiras” é o título de um livro escrito pelo médico Drauzio Varella e publicado em 2017. O Dr. Drauzio é muito conhecido por popularizar a informação médica no Brasil, com sua participação em programas de rádio e TV, através de textos publicados em jornais e por um site e canal no Youtube, onde, aliás, se podem encontrar recomendações de saúde em formato bem didático.
Desde o ano de 1989, Drauzio Varella trabalha como médico voluntário em presídios. Primeiro, foi no Carandiru. Depois, na Penitenciária Feminina da Capital, em São Paulo, onde mais de duas mil detentas cumprem suas penas.
O livro “Prisioneiras” fala sobre a cadeia feminina e a dinâmica que se estabelece ali. Mostra características desse ambiente, em contraste com o comportamento nas prisões masculinas. São 277 páginas muito fortes. Às vezes a leitura fica difícil. Especialmente quando vêm relatos de mulheres jovens, que são mães de vários filhos e todos ficaram espalhados entre parentes e vizinhos, enquanto ela cumpre pena. E dói constatar, também, o que acontece com as visitas: elas são escassas nos presídios femininos, diferente do que acontece nos masculinos. As mulheres não abandonam seus filhos, maridos, pais, mas estes…
O autor descreve situações, raramente faz julgamentos. Olha para as presas e também para as agentes penitenciárias, procurando enxergar a história de vidas humanas.
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Durante anos, o médico atendeu dentro de uma cela, em área de segurança máxima. Falando sobre essa experiência ele diz:
“Nunca tive medo. Preso nenhum ousa atacar um médico que presta serviço voluntário, como me assegurou Pernambuco, assaltante de extensa folha corrida, preso ali havia mais de quinze anos, o que lhe conferia moral para apitar as finais de campeonato de futebol da casa.
“- pra dar uma de louco pra cima do senhor aqui dentro, precisa fazer questão fechada de morrer.”
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Drauzio Varella não deixa de cutucar a precariedade da situação dos presídios – reflexo da desorganização social neste país. Diz assim:
“Poder é um espaço abstrato que jamais permanece vazio. O massacre de Carandiru e o aumento explosivo da criminalidade no Brasil roubaram do Estado o controle da disciplina nas prisões”.
“Como vigiar o que se passa no interior de uma cela preparada para receber dez pessoas, na qual se amontoam vinte homens? Ou num presídio construído para oitocentos, ocupado por 2 mil?”
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E tem uma opinião que deveria nos fazer pensar:
“Enquanto vigorarem as leis atuais de combate às drogas ilícitas e insistirmos em manter no regime fechado pequenos contraventores que não praticaram atos violentos, nada leva a crer que haverá saída para os problemas da superlotação que transformaram nossas cadeias em escolas do crime.”