O atual movimento de entrada de venezuelanos no Brasil vem trazendo muita tensão na fronteira norte. Para melhor compreender, cabe recordar que em 2015 havia cerca de mil venezuelanos no Brasil e que só durante o ano de 2017 entraram 17 mil. Por sua vez, nos primeiros seis meses deste ano de 2018 cerca de dez mil atravessaram a fronteira. O mais difícil é que o fluxo continua em maré montante, num local onde faltam bons serviços públicos também para a população nativa. Como então acolher multidões que fogem para cá desordenadamente?
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Ao que dizem as notícias, as condições de vida na Venezuela não param de se deteriorar. Deve ser assim de fato. Não seria por nada que famílias inteiras colocam na mala o que conseguem e partem. Lançam-se no rumo do desconhecido, sem casa e sem emprego. Além de tudo, entram num país onde a língua é diferente e onde sabem que são indesejados.
Diante dos fatos em curso no estado de Roraima, fica mais fácil entender por que os países resistem a receber imigrantes. É o caso da Europa e dos Estados Unidos. Durante a campanha presidencial, Donald Trump falava em construir um muro na fronteira com o México, por onde entram milhares a cada ano não obstante a vigilância da polícia. A imigração indiscriminada é um assunto delicado, para dizer o mínimo.
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Deixemos, no entanto, de lado o ponto de vista demográfico e político para pensar nas pessoas que saem da sua casa e se aventuram num ambiente desconhecido. Casa sempre foi sinônimo de abrigo e de segurança. Sair deliberadamente de casa, sem outro plano além de fugir, mostra o nível do desespero vivido.
Alguns bichos estão mais preparados para as adversidades. Os caracóis, por exemplo, levam a casa consigo e podem se recolher ao primeiro sinal de ameaça. Para as pessoas tudo é bem mais complexo. Tão complexo é que, até quem tem uma casa bem fincada na terra pode se pegar sem casa. Quer dizer, sentir-se sem apoio, sem chão, como se de fato faltasse um porto seguro.
Acontece que aquilo que sentimos nem sempre tem a ver com a realidade concreta. Quase todos já passamos por situações que nos encheram de medo, seja em função de perigos reais ou imaginados. Quantas vezes a gente pode querer ir para casa (para a segurança, para o abrigo, para o colo do pai), mesmo que se encontre em casa, geograficamente falando!
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Os estudiosos da alma humana por favor que nos ensinem como é possível fortalecer o nosso interior, para que a casa que sentimos dentro de nós permaneça firme. Firme também nos períodos em que nos vemos muito frágeis ou desamparados, como está acontecendo com os milhares de venezuelanos em fuga.