No domingo passado, ainda de manhã, recebi mensagem da minha amiga turca, a Suzan Erel. Ela me cumprimentava pelas eleições que transcorriam no Brasil.
Conheci a Suzan Erel em Montevidéu e já tive oportunidade de lhe fazer uma visita. Aliás, estou me preparando para encontrá-la mais uma vez, em breve, novamente na Turquia. Se calhar, dou notícias do encontro. Bom, mas por conta da amizade com a Suzan, passei a prestar mais atenção ao que acontece por lá. O país tem milhares de anos de história e traços que chamam a atenção. Geograficamente falando, tem um pé na Europa e um pé na Ásia. No mesmo território convivem a cultura ocidental e um conservadorismo que nos surpreende. Por exemplo, é possível ver mulheres de burca – aquela vestimenta que cobre o corpo da cabeça aos pés – sim, mulheres de burca, embora a maioria adote os costumes ocidentais.
Pois bem, na mensagem de domingo, a Suzan mostrava alegria com o movimento eleitoral brasileiro e fazia votos de um resultado positivo para a nação.
Meu primeiro impulso foi responder falando das nossas mazelas. É possível que minha amiga nem imagine o tamanho das encrencas que enfrentamos aqui. Deu vontade de tecer um rosário de lamúrias.
Mas pensei melhor.
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A comparação com a Turquia mostra que há motivos para festejar. Vê só, os turcos vivem sob o comando do mesmo mandatário, Recep Erdogan, desde 2003. Por onze anos Erdogan foi Primeiro Ministro e de 2014 para cá ocupa o cargo de Presidente. Neste posto, comanda sozinho o país, simplesmente por que extinguiu o cargo de Primeiro Ministro.
No ano de 2016 houve uma tentativa de destituir Erdogan do poder. A reação foi violenta. Mais de cem mil servidores públicos foram sumariamente demitidos; cinquenta mil, estão presos e continuam aguardando julgamento. Há 150 jornalistas detidos. Também nas Universidades aconteceram demissões, por conta do crime de externar ideias sem sintonia com o pensamento oficial.
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Não receio estar errada ao dizer para a Suzan Erel que a democracia brasileira vem se consolidando de um modo alvissareiro.
No Brasil é possível ter opinião política, sem colocar o emprego em risco. Aqui há três poderes que funcionam. A população elege seus governantes. Podemos fazer escolhas equivocadas, exatamente pelo fato de termos chance de escolher. Quando isso acontece, bem, paciência. No prazo de quatro anos haverá nova oportunidade. Não há cadeira cativa.
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De tudo isso você vai dizer o quê? Vai dizer que o câncer do vizinho não cura a minha gripe ou vai dizer que de grão em grão a galinha enche o papo?