Vou comprar um aspirador de pó. É simplesmente para tirar o pó da casa. Óbvio. Se aspirar o pó direitinho e não for pesado na hora de usar, está ótimo. Penso que vai ser um vapt-vupt na loja.
Ai de mim!
– A senhora quer este que tem o exclusivo filtro XXXX, que retém 99,5% dos ácaros e poeira?
– Ou este? Ele faz a sucção de líquidos também?
– Talvez este? Acompanha um conjunto de escovas especiais para estofados, para rodapés, para pequenas frestas, para metais …
O vendedor deixa por último a joia da coroa:
– Este aqui traz uma inovação – ele comenta com orgulho. Está anos à frente de qualquer outro modelo…Abre uma caixa de maravilhas e começa a me explicar detalhes. Faz demonstrações. Nem repara nos meus olhos mais esquivos do que curiosos.
Fico quase envergonhada de dizer que não estou procurando inovação. Queria um sólido e bom aspirador de pó. Já conheço o fim de tantas traquitanas que acompanham produtos que me seduziram algum dia. Já sei que nem vou me lembrar, ou nem vou saber usar as mil e uma utilidades agregadas ao produto.
Por fim, me encorajo a falar. Quero somente o básico, digo à meia voz, como se estivesse cometendo um delito.
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O episódio me deixa pensativa.
Parece que hoje em dia “inovação” é a qualidade mais festejada do planeta. A única indispensável a qualquer produto ou empreendimento. Tornou-se compulsório ir além dos limites do objeto. Provocar surpresas colossais no comprador. Se ele quer um aspirador, vai amar o robô que lhe oferecem – ensinam os gurus.
Supõe-se que todo o mundo está em busca de outra coisa em vez daquela que demanda – mesmo que não saiba o que isso é. Acham que a gente tem que ser ensinada a gostar do que não conhece ainda e nem pensava conhecer. Os riquefifes novidadeiros tomam conta.
Parece que inovação se tornou um novo deus. Se não for inovador, não tá com nada.
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Fico meio sem jeito de andar assim na contramão. Mas é fato que muitas vezes me sinto um cliente frustrado exatamente por que eu não queria novidade coisa alguma. Queria virtudes muito simplesinhas, triviais. Eficiência, por exemplo. Ou pontualidade na entrega. Durabilidade.
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Socorro! O que que eu faço para não parecer assim antiga?