Burca é a vestimenta tradicional das mulheres muçulmanas. Ou, talvez, seria mais apropriado dizer que burca é a vestimenta das mulheres muçulmanas tradicionais?
Seja como for, burca é uma designação genérica para esse traje que simboliza a modéstia feminina, em situações públicas.
Na prática, há variações. Pra começar, nem todas as muçulmanas vestem a burca. Esta pode se apresentar na cor preta, branca, azul-claro ou, também, pode ser colorida. Pode deixar apenas os olhos de fora e, ainda assim, protegidos por um tecido furadinho, ou pode deixar todo o rosto livre e até uma parte dos cabelos.
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Na minha recente viagem à Turquia constatei que a burca é muito popular por lá. Tive até a impressão de que está sendo mais usada agora do que era nas vezes anteriores em que visitei o país. E pode ser verdade, pois a nação atravessa uma fase nitidamente conservadora, seja na esfera política, seja nas relações sociais.
Duas variantes da burca são comuns ali: a nicabe e o chador. A nicabe é feita de tecido preto e deixa somente os olhos de fora – sem a tal tela furadinha. O chador também é preto. A diferença é que não cobre o rosto, só esconde os cabelos.
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Minha primeira reação foi de assombro – quase indignação – ao deparar com tantas mulheres de burca já no aeroporto de Istambul. Como seria possível sujeitar-se a usar um traje assim? Senti a burca como os condenados devem sentir o garrote impedindo a circulação do sangue.
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Com o passar dos dias e observando mais de perto as mulheres de burca em lugares turísticos, comecei a duvidar da minha primeira impressão. Primeiro, porque elas eram muito jovens, usavam tênis de marcas internacionais, relógios caros no pulso e pareciam contentes da vida. Segundo, porque não desgrudavam do celular. Claramente, estavam mandando mensagens, furungando sites diferentes ou se divertindo com jogos eletrônicos.
Se estão assim conectadas à internet, com certeza têm acesso a ideias e comportamentos diferentes. Ou seja, aquilo que chega a elas não estará cortado segundo um único molde nem elas obedecem a um único patrão. Não tem como. De modo que comecei a pensar que muitas mulheres usam a burca, mais por costume e praticidade do que por qualquer outra razão. Vá a gente lá saber! E, além de tudo, deve ser muito bom não precisar decidir a cada passo “com que roupa eu vou”. Me lembrando disso, até fiquei com inveja…
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Boto este assunto na roda como provocação. Simplesmente não dá para saber como ou por que os outros agem e pensam de maneira diferente da nossa. Fazer julgamentos, olhando de fora, não tá com nada.
Parece mais garantido embarcar na canoa de Sócrates, a quem se atribui uma frase preciosa: “só sei que nada sei”.