Sou fanzaça do Renato Portaluppi. E faz tempo.
Depois que se transferiu do Grêmio para o Flamengo, na década de 80, perdi uma parte do interesse. Fechei os olhos para o sucesso que fez no Rio de Janeiro. Talvez por ciúme, não gostei muito que fosse chamado de “Rei do Rio”. Queria que ele fosse para sempre e só o “Rei do Grêmio”…
Acompanhei meio distraída a dificuldade em se adaptar ao futebol europeu; o rumoroso corte do seu nome da seleção de Telê Santana em 1986 e a discreta participação na Copa seguinte. Observei de longe o início da carreira como treinador de futebol, no final dos anos 90.
Mas, quando começou a retornar para o Grêmio, primeiro em temporadas curtas, depois, com mais coragem, voltei a me importar e muito com o que o Renato fala ou faz.
Agora que renovou com o Grêmio, estou só no aplauso.
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Renato Portaluppi vem de origem modesta. Durante a adolescência, trabalhou em padaria, trabalhou em indústria de móveis, pois tinha de ganhar o pão que comia. Mas, ao surgir uma oportunidade no futebol, agarrou a chance com toda a garra e com o atrevimento que lhe são característicos. Também, com a imodéstia e o prazer que – desconfio – deixa mais chateados os seus críticos.
Depois disso veio o sucesso. Vieram também alguns revezes, para mostrar que nem só de flores é tecida a jornada, por mais bem-sucedida que ela seja.
Renato aproveitou o bom e o ruim que a vida lhe trouxe e soube crescer como pessoa e melhorar como profissional. Hoje, aos 56 anos, está no auge, sem que isso signifique o fim da linha. Ao contrário, tem convicção de que há muito pela frente. Não faz segredo dos grandes sonhos que tem por realizar ainda.
Quando lhe perguntam o que seria na vida se não fosse jogador de futebol, responde que nunca pensou em nada mais. Responde que sempre soube que seria jogador e que se daria bem. A mesma franqueza aparece quando diz que quer ser treinador da Seleção Brasileira no futuro.
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Muita gente se incomoda com a autoavaliação do Renato. Ele afirma que a palavra que melhor o define é “gênio”. Ele diz que sabe tomar decisões. Ele diz que merece aplauso e que até uma estátua lhe cabe. Quer um prato mais cheio para os seus desafetos?
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Aliás, é meio desconcertante esta dificuldade que em geral temos para reconhecer o talento dos outros e para elogiar suas qualidades. Seria manifestação do famoso efeito caranguejo? Sabe como é? Colocados num balaio fechado os caranguejos são capazes de morrer todos, pois quando um encontra um furo para sair, os demais se agarram nele, tiram-lhe os movimentos, e caem todos de volta para o fundo.
A lógica é esta: quando um se destaca, há que puxar para baixo.
Pode não parecer, mas a mediocridade geral é um lugar que pede muito pouco em troca do conforto que oferece…