Desde 1988, dia 1º de dezembro é tido como o Dia Mundial da Luta Contra a Aids. A data tem por finalidade falar sobre Aids e HIV, sua prevenção e, sobretudo, atentar para as pessoas infectadas pelo vírus HIV e as doenças da Aids.
Os novos números da epidemia, divulgados nesta semana pelo Ministério de Saúde, revelam que, de 1980 a junho de 2018, foram identificados 926.742 casos de Aids no Brasil, um registro anual de 40 mil novos casos. Em 2012, a taxa de detecção de Aids era de 21,7 casos por cada 100 mil habitantes e, em 2017, foram 18,3, queda de 15,7%. Na comparação com 2014, a redução é de 12%, saiu de 20,8 para 18,3 casos por 100 mil habitantes.
O número de óbitos em função da Aids também vem caindo. Em quatro anos, a taxa de mortalidade pela doença passou de 5,7 por 100 mil habitantes em 2014 para 4,8 óbitos em 2017. A garantia do tratamento para todos, lançada em 2013, e a melhoria do diagnóstico contribuíram para a queda, além da ampliação do acesso à testagem e redução do tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento.
Não viver na dúvida
Embora o tratamento já tenha evoluído muito desde a década de 1980, quando surgiram os primeiros casos, ainda não há cura para a Aids. No Serviço de Atendimento Especializado (Sae) de Lajeado, são 1592 pacientes cadastrados que fazem tratamento ou em algum momento usaram o serviço, a partir de 1999. São pessoas de todas as classes sociais, escolaridades, gêneros e raças. “É uma doença de todo mundo”, observa a coordenadora do Sae, a assistente social Waldirene Bedinoto.
Nos seus 18 anos de trabalho na unidade, já vivenciou inúmeras situações e diz que o preconceito ainda é uma barreira muito grande. Isso porque falta entendimento, empatia e respeito ao paciente. “Precisamos entender que não existe mais grupos de risco. Hoje toda pessoa que mantém relação sexual desprotegida sem que o parceiro tenha feito o teste de HIV, está vulnerável”, explica. Ela afirma que não são raros os casos em que pessoas que só tiveram um parceiro na vida descobrirem que foram contaminadas. Algumas vezes essa descoberta só é feita quando a doença já está avançada.
Por isso, é tão importante fazer o teste de HIV, que está disponível nas unidades de saúde nos municípios e também no Sae. O teste rápido, disponível para diagnosticar HIV, sífilis e hepatite B e C, leva em média 15 minutos. Se o diagnóstico para HIV for positivo, o paciente é encaminhado para atendimento especializado e poderá fazer o tratamento, que é gratuito, e o acompanhamento clínico no Sae. “As pessoas não precisam mais adoecer de Aids”, destaca Waldirene, observando que quanto antes for o diagnóstico, melhor. Isso porque o tratamento, que atua na supressão da carga viral, vai iniciar cedo, garantindo maior qualidade de vida ao portador de HIV e diminuindo os riscos de novas transmissões. A maioria dos contágios acontece exatamente porque as pessoas não sabem que possuem o vírus e acabam não se protegendo no ato sexual, transmitindo para o parceiro ou parceira.
Desde 2012, quando iniciou a testagem rápida, o número de diagnósticos de HIV no Sae Lajeado tem aumentado. O dado é visto como normal, já que este tipo de teste, combinado com o trabalho da equipe, abrange uma parcela muito maior da população. É comum ações em empresas, visando principalmente as pessoas que não buscam o atendimento na rede pública de saúde e também na rua, para todos os interessados. Neste sábado, inclusive, a equipe vai realizar testes rápidos na frente da Caixa Econômica Federal, no Centro de Lajeado. O trabalho é sempre executado por equipe de profissionais e prioriza o sigilo da informação e o bem-estar da pessoa.
De janeiro a agosto deste ano, foram realizados mais de cinco mil testes rápidos em Lajeado, o que corresponde a 44% do total realizado nos 37 municípios de abrangência da 16ª Coordenadoria Regional de Saúde. Proporcionalmente, a região foi a que mais realizou testes rápidos no período, no Estado. Foram mais de oito mil. Justamente por esse expressivo número de testes rápidos, o Sae Lajeado passa a contar, a partir de dezembro, com a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV. O medicamento é destinado a pessoas que não possuem o HIV mas têm mais chances de entrar em contato com o HIV, como casais em que um é soropositivo e outro negativo, por exemplo. São formas combinadas de prevenção, com o único objetivo de impedir novas transmissões.
Tratamento
Se nos anos 1980 receber o diagnóstico de HIV/Aids era quase uma sentença de morte, hoje a realidade é bem diferente. O tratamento evoluiu muito e, nos dias atuais, é tida como uma doença crônica, que pode ser controlada com a medicação contínua. Waldirene diz que houve uma evolução drástica no período em que atua no Sae. “Antigamente tomavam de 15 a 20 comprimidos por dia. Hoje é um só, com menos efeitos colaterais e resultado muito mais rápido na supressão da carga viral. Estamos evoluindo a passos largos. No início os pacientes tinham que ir a Passo Fundo para fazer os exames de carga viral e CD4 (células de defesa atacadas pelo HIV), depois para Porto Alegre e hoje nos orgulhamos muito de poder fazer essas coletas aqui, em Lajeado”.
O número de transmissões verticais, quando a mãe passa para o bebê na gestação, também reduziu. Hoje o exame de HIV faz parte do pré-natal, o que faz com que as gestantes diagnosticadas na gravidez, assim como as sabiamente soropositivas, tenham um atendimento diferenciado, no intuito de evitar a transmissão para a criança. São 14 anos sem um único registro de bebê nascido com o vírus em mães acompanhadas pela equipe do Sae.
Preconceito
Mesmo com tantas evoluções, muitas pessoas ainda sofrem com o preconceito. Waldirene salienta que o tratamento humanizado pelos profissionais de saúde, com empatia e respeito, facilita a adesão ao tratamento. “Nos esforçamos para facilitar ao máximo a continuidade do tratamento. Atendemos das 7h às 17h, sem fechar ao meio-dia justamente para facilitar”.
A assistente social acredita que enquanto sociedade ainda há muito para evoluir e que muitas pessoas não comentam sobre sua condição com medo do preconceito. “HIV não define ninguém. Como profissional de saúde eu tenho que pensar em como ajudar para que o paciente não esteja vulnerável, sempre com muito respeito e empatia. Ainda se tem muito preconceito, mas é preciso falar mais, discutir mais sobre Aids e HIV. É preciso se dar conta de que a Aids não tem preconceito, porque ela não escolhe gênero ou cor de pele, quem tem preconceito são as pessoas”.
Da mesma forma, salienta que não basta falar em prevenção e uso e preservativos, é preciso dismistificar o tabu que ainda existe quadno o assunto é sexo.
Testes em Arroio do Meio
No município é possível fazer o teste rápido em todas as ESFs e também no Posto de Saúde Central. Os testes podem ser agendados ou serem feitos em livre demanda, sempre que tiver profissional disponível ou houver urgências específicas. Neste sábado o Posto de Saúde Central estará aberto para a realização de testes rápidos de HIV, sífilis e hepatite B e C. O atendimento sempre é feito por um profissional da saúde.
Arroio do Meio conta com 116 pessoas cadastradas no Sae Lajeado.