Nesta altura do ano quase só se fala em presentes. Natal ficou associado a presentes. Por incrível que pareça aos mais novos, nem faz muito tempo e as coisas eram bem diferentes.
Quando crianças, nós, que hoje somos avós, nós púnhamos poucas expectativas nas costas do Papai Noel. Os presentes eram modestos, isto a gente sabia de antemão. Bom, possivelmente seria diferente nas casas mais abastadas, não sei. Entre nós, embora aguardados, os presentes não tinham de longe a importância que vieram ganhando depois. Recebíamos brinquedinhos, alguma peça de roupa, chocolates, material escolar, coisas assim. Tudo muito bem-vindo. Mesmo chinelos ou uma caixinha de lápis de cor, preciosidades! Mas, do Natal, guardo a ideia de que o principal era a atmosfera.
Criava-se uma atmosfera de festa e milagre. Era um período de encantos.
Isto pode ter relação com a escassez em que se vivia. Tudo era escasso, tudo era raro em matéria de objetos. Idem, idem, em termos de festas. Acho que os dedos de uma das mãos seriam suficientes para contar as festas que aconteciam durante o período de um ano. Se alguém profetizasse que veríamos a fartura atual, daríamos uma bela risada: coisa de doido, lorota.
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Me alegra que tudo tenha ficado mais fácil e mais abundante. Foi uma evolução.
Nem de longe parece que antigamente a vida era melhor.
Só acho que a comparação entre tempos diversos pode mostrar como há dentro de nós um espaço que nem as coisas, nem os brilhos, as luzes, os fogos, foguetes, barulhos, orquestras, fanfarras podem preencher.
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Todos precisamos de afeto, atenção. Isso pode vir em forma de um pacote enfeitado ou pode vir de bem outros jeitos.
Todos nós precisamos de compreensão e respeito. Todos nós precisamos de tempo e silêncio. Todos nós precisamos de esperança e consolo. Isso pode vir em celebrações, em retiros, em encontros, em torno de símbolos ou da forma que for.
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Pode ser que a magia dos antigos natais se fizesse em torno de um milagre insondável, que nos atingia na intimidade da alma e dava uma alegria indizível. Hoje, se apostam as fichas, quase todas as fichas se apostam na troca de presentes embalados em belos pacotes.
Por maior que seja o seu número, porém, depois que todos foram abertos, a gente olha no lado à procura do que mais tem para abrir… O que mais?