Passado o período de recesso, o Legislativo de Travesseiro retoma na terça-feira, às 19h30min, as sessões ordinárias. Neste ano a Câmara de Vereadores será presidida por Tiago Elói Weizenmann (PP), 29 anos, que está em seu segundo mandato. Vereador da oposição, que tem maioria na Câmara, Tiago salienta que a maior preocupação não é com posições partidárias e sim, com o melhor para o município como um todo.
Em sua primeira experiência como presidente do Legislativo, ele diz que a oposição não é de rixas. Tem o caráter construtivo. “Tentamos trabalhar juntos com a Administração para o que é bom para o município. Os projetos que não são bons exigem que tenhamos a posição de votar contra”, pontua, observando que o vereador tem responsabilidades, não pode pensar politicamente e sim no crescimento do município.
Hoje 80% da receita municipal vem da agricultura. Tiago entende que é preciso valorizar o setor e, ao mesmo tempo, desenvolver a cidade, buscando um equilíbrio maior. Somente 6% do orçamento é gerado no município. O restante, 96%, depende de recursos enviados pelo governo, através do Fundo de Participação dos Municípios. (FPM). Para 2019 o orçamento do município é R$ 14 milhões, para 2300 habitantes.
Recentemente, a Câmara visitou Santa Clara do Sul, emancipado no mesmo ano que Travesseiro. São quase seis mil habitantes e um orçamento que gira em torno de R$ 24 milhões. “Temos mais do que a metade do orçamento deles. Parece que lá o município se desenvolve mais rápido, mas lá o planejamento é outro. Aqui em Travesseiro a Administração é muito voltada para partidários. Os funcionários de alto escalão são contratados visando a política. Em Santa Clara se viu o contrário, as pessoas são contratadas porque são capacitadas para o cargo”.
Ele critica a forma como a atual Administração vem conduzindo os trabalhos, em alguns aspectos. Declara que há dificuldades para conseguir algumas informações, como as que deveriam constar no portal da transparência, e que o quadro de funcionários está inchado, com o aumento no número de cargos em confiança (CCs). Hoje, segundo o vereador, há um funcionário municipal para cada 14 habitantes. Considera o número alto, tendo em vista que a receita do município é, em média, R$ 1,1 milhão ao mês e foi gasto, em novembro passado, R$ 420 mil no pagamento do quadro.
Tiago observa que houve a divulgação de que o município compromete cerca de 33% da receita em funcionalismo e contrapõe o dado afirmando que este não corresponde à realidade, já que os cargos em comissão, função gratificada e contratos não entram neste cálculo, somente os servidores efetivos.
No que tange aos investimentos, salienta que há um bom valor em caixa, mas é preciso estar ciente de que muitas coisas deixaram de ser feitas para que esse recurso esteja disponível. Para ele nem sempre ter dinheiro em caixa é sinônimo de investimentos, obras e melhorias para a população.
Tiago diz que na Câmara de Vereadores não haverá oposição ferrenha à Administração do prefeito Genésio Hofstetter (PSB). Contudo, revela que os vereadores da oposição não irão votar a favor de projetos que forem ruins para o município, seja a curto, médio ou longo prazos. “Não podemos pensar só no agora. Queremos que o município vá para frente, se desenvolva cada vez mais. Tanto que no último ano foram aprovados vários projetos para melhorar o município”. Cita como exemplo R$ 500 mil para a ampliação da Escola Pedro Pretto e R$ 140 mil para o fechamento do ginásio. “Os projetos foram aprovados, mas foram engavetados pela Administração, mesmo o município tendo recursos. São mais de R$ 3,5 milhões em caixa que podiam ser utilizados em obras, mas nada foi feito”.
Um dos projetos rejeitados pela oposição em 2018 foi o que previa o asfaltamento de ruas no Centro por meio de um financiamento superior a R$ 2 milhões contratado pelo município. O vereador explica que a matéria, se aprovada da forma que foi para a Câmara, seria prejudicial ao município. “Fomos contra esse projeto porque ele estendia muito a amortização, eram quinze anos e quase 1% ao mês de juros. Então o município iria se endividar pelos próximos três mandatos. E seria para ruas do Centro, onde há extrema necessidade em duas, porque existem grandes empresas instaladas. Mas no projeto existiam outras ruas que não têm a necessidade de se asfaltar agora”, afirma, salientando que os vereadores não têm como alterar um projeto que vem do Executivo. Podem, no máximo, propor uma emenda que corre o risco de ser vetada pelo prefeito. “Ia endividar o município. Porque não fazer com recursos próprios, já que tem dinheiro em caixa? Assim não endivida os próximos mandatos, independente de quem for eleito. A população não pode pagar por isso”.
O vereador acredita que menos de 5% dos projetos foram reprovados pela oposição no decorrer de dois anos de mandato. Isso porque a ideia dos membros do Legislativo é melhorar o município, fazer valer o cargo que desempenham. “O vereador representa sua comunidade, seu bairro, localidade e município. Leva para a Câmara o que cada comunidade precisa para se desenvolver e se manter”.
Aponta como uma necessidade na parte urbana o escoamento fluvial, porque a tubulação não comporta a vazão da água da chuva. Também informa que há projetos para recapear o asfalto no Centro, sem mexer na estrutura, como o escoamento fluvial e o saneamento básico. “Acho que a Administração devia abrir os olhos também para o que não se enxerga, que está embaixo da terra. Para uma cidade planejada é preciso começar pela parte estrutural”.
Uma das leis que precisam ser alteradas, segundo o parlamentar, diz respeito aos loteamentos. “Hoje a lei municipal não exige pavimentação ou uma estrutura um pouco melhor. Isso vai acabar gerando um problema no futuro. Todos que têm áreas na zona urbana vão querer transformar em loteamento e a pavimentação vai acabar ficando por conta do município e ele não vai comportar essa necessidade. Uma das leis que devia mudar é que quem faz o loteamento teria que fazer a pavimentação”. Ele argumenta que vários municípios da Região já adotaram uma legislação que disciplina a questão dos loteamentos e o mesmo deveria ser feito por Travesseiro. “Além disso, no loteamento que tem infraestrutura, com pavimentação, se vende os lotes mais fácil”.
Emendas
Segundo o presidente do Legislativo, praticamente todos os vereadores têm recursos encaminhados junto a deputados, o que pode beneficiar o município ao longo do ano. No entanto, ainda não há clareza, por parte da nova equipe do governo federal, quanto ao pagamento desses recursos.
Ele também argumenta de que é preciso ter um setor, na prefeitura, que se empenhe mais na busca por recursos federais. Diz que outros municípios, a exemplo de Santa Clara, conseguem recursos para asfaltamento no interior por meio do Ministério de Agricultura e Pecuária.
Jovens
Eleito para o Legislativo municipal aos 23 anos, Weizenmann sabe dos desafios que os jovens enfrentam no município. Durante anos trabalhou unicamente no meio rural, junto com os pais. Atuou como inseminador por nove anos, o que lhe deu a oportunidade de conhecer todo o município. Hoje ainda atua na lavoura dos pais, mas sua maior atividade profissional é no campo da informática. Assim como outros jovens, mudou-se para a área urbana e montou seu negócio, em busca de novas perspectivas.
Lamenta o fato de muitos jovens capacitados terem a necessidade de se mudarem para outro município em busca de oportunidades. Chama atenção para uma situação que pode se tornar um problema no futuro: o envelhecimento da população rural e, consequentemente, a queda na arrecadação municipal, que hoje depende de 80% do setor primário. Defende que é preciso encontrar mecanismos para incentivar os jovens a permanecerem em Travesseiro, seja no meio rural ou no urbano.
A política
Para o mais jovem vereador travesseirense, a política entrou em sua vida ao natural. Pelas andanças no interior, conheceu as necessidades dos seus conterrâneos e viu na Câmara de Vereadores uma oportunidade de se colocar à serviço. “Sempre gostei de trabalhar com pessoas e ajudar. Vi na política uma forma de ajudar as pessoas”.
Diz que, enquanto político, se sente em parte realizado e não esconde que ainda há muito a fazer. “Gostaria de ajudar muito mais, trazer e agregar mais ao município, mas muitas vezes como vereador a gente depende de outras coisas. As vezes se depende do Executivo, em outras de um deputado, que promete uma coisa e depois deixa a desejar”.
Weizenmann declara que a vida do político não é tão fácil quanto a população pensa. Além das sessões, duas ao mês, o vereador que quer de fato se dedicar ao mandato, com a responsabilidade que o cargo tem, precisa estar atento aos detalhes inerentes à função. Cita como exemplo o estudo e o detalhamento dos projetos. “As pessoas as vezes acham que é só ir lá na sessão e aprovar ou reprovar os projetos, mas não é bem assim. A gente tem muita correria para buscar informações do projeto, conversar com as pessoas, ver se realmente tem a necessidade daquilo, se é conforme a necessidade de cada um. Se busca informações para ter maior clareza para apreciar o projeto”.
Ao avaliar a política no município, observa que na próxima eleição Travesseiro deve chegar ao mesmo patamar que chegou o país: “ou muda ou vai ficar na mesmice por muito tempo”, prospecta.
Para o futuro, não nega o desejo de concorrer ao Executivo. Contudo, diz que não depende só de sua vontade, mas de um conjunto de fatores. Precisa ser o nome indicado pelo partido, ter a aprovação de uma possível coligação e depois nas urnas. “Vontade eu tenho, mas não depende só de mim”.