Quem presta atenção, percebe que a roupa fala. Não só fala, como faz propaganda, revela segredos, até pode marcar gol contra – dizem os estudiosos do assunto.
Nós, que nos vestimos todos os dias sem grande preocupação, não damos muita bola para o assunto. Mas, os figurões se preocupam. É por isto que os grandes jornais contratam especialistas para analisar moda e bisbilhotar os trajes das celebridades.
Fiquei sabendo disso ao ler sobre Vanessa Friedman e Robin Givhan, as jornalistas encarregadas de observar como os poderosos se vestem e contar para os leitores do New York Times e do The Washington Post, respectivamente.
Como se pode imaginar, a curiosidade maior vai para os trajes usados pelas primeiras damas dos Estados Unidos e para a roupa com que candidatos e presidentes aparecem em eventos oficiais.
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As primeiras damas quase nunca têm a palavra, limitam-se aparecer, sorridentes, ao lado dos maridos. Acontece que, mesmo em silêncio, a roupa fala por elas. Barbara Bush, por exemplo, vestia-se para agregar a simpatia de uma avó, ali junto ao poder. Rosalyn Carter repetia os mesmos vestidos, mostrando que o casal presidencial dava importância para a simplicidade e para a economia. Jaqueline Kennedy, por sua vez, usava as roupas para mostrar como seu marido era um presidente moderno e carismático.
Logo após a eleição de Trump, a TV mostrou o presidente e a esposa embarcando no avião presidencial para levar solidariedade às vítimas de um desastre natural. A cena recebeu uma saraivada de críticas. Tudo por que ela usava sapatos de salto alto. Vanessa Friedman escreveu no New York Times que aquele sapato não era simplesmente um sapato, mas simbolizava a desconexão entre a administração Trump e a vida real.
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O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, e o presidente da França, Emmanuel Macron, procuram mostrar na roupa que não são políticos tradicionais. Valem-se do visual para divulgar a modernização que eles pregam. Aparecem sem gravata e usam cores mais variadas e alegres. Já o presidente Trump quer mostrar exatamente o oposto. Ele se apresenta como alguém capaz de trazer os bons velhos tempos de volta. Sua roupa é sempre convencional e as cores não mudam nunca.
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Hilary Clinton, como se pode imaginar, é um prato cheio. Num debate da campanha presidencial de 2016, ela se apresentou usando cores neutras. As roupas inexpressivas combinaram bem com o objetivo da candidata que, naquele momento, não queria se comprometer com nenhum assunto polêmico. Sua roupa não dizia nada. Não mostrava bom-humor, não dava pistas sobre o gosto pessoal. A reprovação veio imediatamente. Acontece – disseram os analistas – que cortar da roupa o potencial de comunicação não ajuda um candidato. Pode, isto sim, prejudicá-lo. Pode dar a impressão de que ele não tem opinião sobre nada ou, pior, que ele quer disfarçar sua opinião. Foi o legítimo caso em que a roupa se encarregou de fazer um gol contra.