Existe curso para quase tudo hoje em dia. Fora aqueles tradicionais, têm feito sucesso os cursos que ensinam a falar em público, a cuidar de horta e jardim, a pintar e bordar e, ultimamente, a lidar com dinheiro. Este curso, chamado de finanças pessoais, vem a calhar. Ficou tão fácil comprar que se perder nas contas ficou mais fácil ainda.
Na outra semana, foi noticiada a criação da Escola de Espectadores de Porto Alegre, que ensina a assistir espetáculos, principalmente teatro.
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Há dias vi propaganda de outro curso. Curso de preparação para a aposentadoria. Não sabia que existia por aqui. A ideia é bem boa. A gente passa a vida esperando a hora de ter mais tempo para si mesmo. Quando, afinal, tem tempo de monte, nem sabe mais o que tanto queria fazer com ele. Os antigos diziam que o ócio é a oficina do diabo. Em linguagem mais moderna dá pra dizer que ter muito tempo e poucos objetivos é um prato cheio para a depressão.
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Se eu fosse organizar um curso de preparação para a aposentadoria, não deixaria faltar aula de música, de leitura e de cinema. As aulas nem precisariam ensinar a tocar instrumentos, a escrever livros ou a fazer cinema – embora pudessem. Elas ensinariam principalmente a gostar de ouvir música, a gostar de ler e a gostar de ver filmes. Sei que a maioria já gosta. Mas neste curso se ensinaria a gostar do que a gente ainda não gosta e não gosta por que não conhece. As aulas dariam exemplos de estilos diferentes, apresentariam obras antigas e atuais e explicariam como compreender melhor, como aproveitar melhor a música que se escuta, o livro que se lê, o filme a que se assiste.
Colocaria também aulas de culinária no programa. Quem passou a vida sem cozinhar, teria chance de conhecer o prazer de preparar a sua comida. Quem já cozinhou muito também teria o que aprender. Seria encorajado a se aventurar por receitas novas. Aprenderia a produzir outros sabores e a apresentar pratos de maneiras novas.
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Agora que puxei este assunto, não consigo parar de pensar em quanta coisa mais o curso poderia oferecer. Tapeçaria; pequenos consertos domésticos; costura; práticas esportivas; primeiros socorros; nutrição; canto; dança…Haveria sempre cursos para iniciantes e cursos com novidades para os outros. A motivação principal seria descobrir que o conhecimento – ao contrário da vida – que o conhecimento é infindável.
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Bom, se fosse para você organizar um curso de preparação para a aposentadoria, o que mais colocaria no programa?