Numa manhã dessas entrei em cafeteria aqui do interior (não foi em Nova Iorque) e pedi uma torrada com café. Pedi e já enfiei o nariz no jornal que trouxera para ler ali.
Pensei que me ocuparia com as notícias mais interessantes no intervalo da espera. Pensei.
Mas qual!
O atendente não se afastou, como eu esperava. O atendente não arredou pé. Ficou firme onde estava, bem do meu lado. Como eu não dissesse nada, ele iniciou o interrogatório:
– Café com leite?
– Café expresso?
– Café carioca?
Resolvido o capítulo do café, o rapaz não sossegou:
– Pão francês?
– Pão de forma?
– Pão integral?
– Pão de hambúrguer?
Quando ele, enfim, se foi, em vez de ler, mergulhei nos meus pensamentos e recordações. Tive que rir.
§§§
Senti o contraste. Em criança aprendi que pão era pão. Café era café. Pão era um alimento de sabor imediatamente reconhecível. A mesma coisa valia para o café. Pão se preparava em casa com farinha, gordura, fermento. O pão ia crescer debaixo de toalha na bacia do pão. Depois, seria sovado. Por fim, colocado em formas para assar no forno. No encerramento do processo, comia-se o pão. Que gosto tinha? Pão tinha gosto de pão. Posso lembrar até agora o gosto que ele tinha. Simplesmente, pão.
§§§
O gosto de pão me lembrou de como a vida era mais simples. Mais restrita, isso é bem verdade. Havia menos escolhas à disposição. Mas havia também menos dúvidas, menos arrependimentos e o espaço dentro de nós restava mais amplo, mais confortável. Algumas coisas – como o café e o pão – estavam definidas. Pronto. Não era preciso se preocupar com elas. Nossas decisões deveriam se dirigir para fatos mais graúdos. O cotidiano estava resolvido por si mesmo. Sim, eu sei que a onda agora é usufruir cada minuto. Tirar o máximo do mínimo, etc, etc.
Mas, sei lá, isto dá chance a nos travar nas miudezas. O diabo mora nos detalhes – dizem. Para o bem e para o mal. As decisõezinhas de cada instante podem nos ocupar, encher o tempo e… como resultado, nos esvaziar. Ficamos dispersos entre tantas oportunidades de escolher, mas lá no fim, se fizermos o balanço, dificilmente somos recompensados com mais contentamento.
§§§
É que, no fim das contas, fica um cutuque atroz. Em vez de simplesmente saborear o café e o pão, uma dúvida perturba o gosto. A grama do vizinho parece sempre mais verde. Que coisa! E… não teria sido melhor pedir um outro pão?