Eu estava caminhando pelo centro histórico do Rio de Janeiro. Caminhava sem rumo muito definido, o objetivo era parar e olhar o que despertasse a atenção. Foi assim que estaquei diante do palácio Pedro Ernesto, a atual sede da Câmara de Vereadores. Fiquei admirando o prédio. A construção é linda. Dá para o largo da Cinelândia, formando um conjunto arquitetônico de rara beleza, juntamente com o Teatro Municipal, a Biblioteca Nacional e o Museu de Belas Artes. Acho que, na hora, havia ali alguma manifestação, pois mais gente parara ali por perto.
Prestei pouca atenção ao que acontecia ao redor, meus pensamentos dispersos entre o presente e o passado – como uma área assim histórica convida a fazer. Cheguei junto à porta do palácio Pedro Ernesto e espiei dentro. Fazia muito calor e o ar geladinho me atraiu. Pensei em descansar um pouco ali.
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O descanso durou pouco, pois o porteiro logo perguntou se eu não queria fazer um tour guiado pela câmara de vereadores.
Querer eu queria, mas qual era o horário de visitas? Além de tudo eu não via ninguém mais esperando para compor um grupo. Não, não… disse o porteiro, a senhora pode ir agora mesmo, vou chamar um guia para conduzi-la.
Fui atrás do porteiro, até uma sala onde havia vários funcionários com crachá. Ele fez um sinal e um rapaz se apresentou para me acompanhar. Bem treinado para a função, simpático, o funcionário foi logo explicando isso e mais aquilo. A última parada se deu no salão nobre – um espaço esplêndido com enormes portas-janela que abrem para um terraço imponente. Ficamos um pouco no salão, admirando os móveis, os quadros, etc. e então, o rapaz abriu de par em par os janelões do terraço e me convidou para sair. Saímos para o terraço. Tudo lindo, menos… menos a quantidade de papéis jogados defronte ao prédio, coisa que se podia ver dali melhor do que de qualquer outro lugar.
Fiquei chocada com o desasseio e não pude deixar de fazer um comentário. O guia concordou que era uma pena, que a sujeira não combinava com a beleza do local e se apressou em concluir:
– Não temos tido sorte. O prefeito da cidade não é nada bom!
Quase dei um salto!
– O quê? Mas foi o prefeito que jogou na rua a papelada?
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O guia fez que não ouviu minha pergunta. Caminhou de volta para dentro e já atravessava o salão nobre, quando eu perguntei se ele não ia fechar as portas que deixara abertas e por onde o ar fresco escoava para a tarde quente. Ele voltou, visivelmente contrariado, e fechou. Afinal não fora o prefeito quem abrira as portas…
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Saí de lá pensando. Que característica bem brasileira esta de passar adiante as responsabilidades! Se há lixo na rua, se as despesas públicas são maiores que as receitas, alguém tem culpa – não eu – e o culpado em geral é o prefeito.
Nem atinamos que nunca haverá prefeito bom o suficiente, enquanto cada de nós, não for um cidadão suficientemente bom…