Duvido que alguém conseguisse prever isto: que as invenções modernas nos levariam a escrever mais do que escrevíamos antes.
A presença maciça da TV nas nossas casas e, depois, a invasão dos celulares, tudo fazia pensar que a atividade da escrita ficaria para uma meia dúzia. No entanto, as mensagens via celular entraram no costume de quase todo mundo. Lemos e escrevemos recados, passamos informações e até negócios somos capazes de fechar.
Alguém vai dizer que uma escrita assim, curtinha, nem vale como escrita, mas eu discordo. Frequentemente faço uma ginástica incrível para dizer em poucas palavras aquilo que ficaria bem mais fácil de expressar num texto longo. É preciso pensar muito para conseguir que uma ou duas frases comuniquem com clareza a nossa ideia. É preciso pensar muito para não deixar dúvidas, quando se trata de passar informações.
Aliás, aproveito a brecha para dizer que, para mim, não há melhor jeito de pensar do que o esforço de escrever. Quando escrevemos, temos de organizar o pensamento em uma ordem bem equilibrada, para que não falte o pé e nem a cabeça. Na fala é bem mais fácil. Podemos acompanhar a reação do ouvinte e corrigir na hora aquilo que parecer estranho ou sem sentido. Acontece que, no momento em que escrevemos, o outro está ausente. Se ele estivesse perto, falaríamos com ele, dispensando o papel e o lápis – ou o celular. Para complicar mais, muitas vezes, nem sabemos quem o leitor é. Pense no caso de alguém lhe pedir informações sobre o carro que você quer vender. Você não sabe com quem está falando, desconhece suas condições e o seu gosto. O melhor que pode fazer, então, é falar com brevidade e com clareza. Por mais difícil que isto possa ser.
§§§
Sempre foi difícil de convencer alguém a limitar-se ao essencial. Nós gostamos de dar voltas sobre assuntos de nossa predileção. Nós gostamos de ouvir a própria voz nas reuniões, mesmo se estamos dizendo pela décima vez o que outros já disseram antes. Adoramos fazer comentários repetitivos, porque aí não corremos riscos. Ou apenas enchemos linguiça, quando não sabemos bem o que dizer.
§§§
Sim, viva o WhatsApp que tem nos ensinado a escrever melhor. Tem nos ensinado a dizer muito com palavras breves.
Ah! Como o exercício da concisão fazia falta antigamente… Lembro, sem saudade, dos vastos sermões, que quando criança devíamos ouvir na igreja. Tínhamos que ficar lá, sérios e imóveis, mesmo se não entendêssemos pícolas.
Aliás, pensando nos sermões de antigamente, me pergunto se não teria rendido mais inverter o esforço. Ou seja, em vez de escalar gente para fiscalizar o comportamento das crianças durante os discursos, que pareciam sem fim, não teria rendido mais trabalhar na outra ponta? Não teria rendido mais investir em lições de síntese para aqueles que falavam?