Parei diante de um canteiro de amores-perfeitos.
Lindo, lindo, lindo!
As flores brilhavam na tarde amena, dessas tardes que falam de primavera mesmo antes da hora. Mistura de brancos, roxos, amarelos, castanhos. Pétalas graúdas em contraste com o verde da folhagem viçosa. Um esbanjamento de tons!
Fiquei com a cena na minha cabeça.
Fui embora pensando no que fazia um canteiro parecer tão belo e acabar grudando assim na retina de quem olha pra ele. O que não podia faltar ali no canteiro?
Bom, acho que a quantidade de cores é indispensável.
Se as flores fossem separadas por lotes – de um lado só amarelos; do outro, apenas os roxos, etc – penso que o resultado seria menos vibrante. A mistura contribui para o encantamento.
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O pensamento migrou lá do canteiro para a vida real.
Diferente do que se dá com as flores, na realidade da vida, nós preferimos a monocromia. Ver que tudo e todos só tem uma cor – um só pensamento – parece que nos tranquiliza.
Por que será que fazemos esforço para uniformizar as ideias, para alinhar as ações? Por que adoramos ver que as pessoas pensam igual – de preferência, igual a nós. Ficamos mais confortáveis, ao perceber que estamos todos de acordo. Assusta a notícia de que há discordância. Se há discordância, aparece o impulso para convencer a mudar: o nosso jeito é muito melhor. Ficamos desconfiados, vamos ao ponto de reprovar e até castigar quem não emparelha conosco. Preferimos ignorar que toda moeda tem outro lado. Gritamos bem alto, para abafar alguma voz diferente. Há um esforço para aplainar o descompasso. Batemos com a porta na cara de quem desafina em relação às nossas certezas.
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Podemos todos parar e admirar um canteiro bem colorido. Gostamos da contribuição milionária de todos os tons, quando se trata de um belo jardim. Mas se for para abrir espaço e agregar contribuições ao nosso pensar – muito obrigado – preferimos fechar olhos e ouvidos. Queremos proteção contra a dúvida. Somos avaros da nossa verdade.
Riscamos da lista aqueles que admitem a abundância incontrolável da vida.
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Será que, além de admirar, dá para aprender com um canteiro de amores-perfeitos?