Quantas barreiras um ser humano é capaz de superar para ter sua família em segurança? Quantos quilômetros viajaria para ter um trabalho, uma vida digna? Quantas novas lições, sejam do idioma ou tantas outras, estaria disposto a aprender para se adaptar a uma vida nova, num país desconhecido? A quem recorrer quando a saudade de casa aperta, a distância da família machuca, o idioma dificulta e o trabalho cansa?
Todos os dias alguém deixa seu país de origem. Alguns porque desejam desbravar o mundo, outros porque não veem opção melhor. Diego Larose e a família de Jean Paul e Mirlene Garraud são haitianos e moram em Arroio do Meio. Quando decidiram deixar o Haiti viam na desconhecida cidade brasileira uma chance de mudar de vida. Sabiam que seria preciso muita força de vontade para superar os desafios, mas partir era melhor do que ficar. Na bagagem, trouxeram poucos pertences e uma dose gigante de esperança.
Diego Larose, 27 anos, chegou em 2 de dezembro de 2013. Seguiu os passos do marido da prima Gisleine, que já estava no município. Deixou para trás pai, mãe, irmãos e amigos. Veio em busca de trabalho e de uma oportunidade para concluir e avançar os estudos. Assim como a maioria dos haitianos, preferia continuar no seu país, mas não via perspectivas, especialmente de emprego e enfrentou o desafio. “No Haiti quem tem dinheiro investe em outro país. No Brasil os ricos criam empregos para a população viver melhor. Lá não é assim”, contextualiza, observando que tudo ficou ainda pior depois do terremoto de 12 de janeiro de 2010.
Animado com a possibilidade de uma nova vida, conversou com os pais, de quem teve apoio, inclusive financeiro, para a viagem. Demorou mais de um mês da sua saída do Haiti até a chegada ao Brasil. Passou pela República Dominicana, em direção ao Equador, onde encaminhou o visto permanente, que facilitaria a emissão de CPF, RG e Carteira de Trabalho no Brasil. Foram longos 40 dias à espera do documento. Por sorte, pôde contar com a ajuda de conhecidos, onde ficou hospedado.
Quando chegou em Arroio do Meio, acompanhado pela prima que veio ao encontro do marido, sentiu o frio na barriga que todos que vão para uma terra desconhecida sentem. Era tudo estranho. Uma cidade diferente, uma realidade totalmente oposta àquela que estava habituado e uma grande dificuldade: a comunicação. Assim como muitos imigrantes haitianos, Diego não dominava a língua portuguesa e essa era, de cara, sua maior inimiga. No Haiti, a língua mais falada é o crioulo. Mas boa parte da população também fala, ou pelo menos compreende, o francês, já que o país foi uma colônia da França. Há ainda quem domine o inglês e o espanhol.
Apesar das dificuldades, em 14 de janeiro o jovem, então com 22 anos, já estava empregado na unidade de laticínios da Dália Alimentos, no bairro Aimoré. “No início foi bem difícil. Os dois, três primeiros meses, fiquei praticando o português com colegas. Demorou um ano para pegar mais habilidade para falar. Em 2015 entrei no Ensino Médio na Escola Guararapes, faltava o último ano, e também foi muito importante para aprender a língua. Quando tinha dúvida sobre algumas palavras pesquisava na internet”.
Hoje Diego é fluente em português. Sua facilidade de adaptação e de aprendizado lhe proporcionaram crescimento profissional. Se no Haiti não tinha boas expectativas de trabalho, no Brasil percebe que é possível ir além. Ainda mais se investir em qualificação. No fim do ano vai concluir o curso técnico em Química, na Univates. Para chegar até esta etapa teve de superar uma série de desafios. “Foi muito difícil no começo. Na Univates era outro sistema e eu tive um pouco de dificuldade, mas encontrei alunos que tinham boa vontade para ajudar. A professora Angela Junqueira explicava como funcionava e o coordenador do curso, Mariano Rodrigues, também me ajudou bastante. Tenho facilidade para aprender e com determinação aprendi muitas coisas”.
A ajuda dos professores do curso técnico foi determinante também para sua carreira. Em junho foi desligado da Dália e, por orientação do coordenador Mariano conseguiu, poucos dias depois, outro trabalho, na Êvie D’Parfum, em Lajeado.
A nova família
Diego não vê pessoalmente os pais e os irmãos desde que deixou o Haiti. Tem muita vontade de visitá-los, mas ainda não conseguiu, em função de as férias de trabalho não coincidirem com as de aula. Torce para que no próximo ano dê certo. No Brasil os laços familiares se mantêm próximos, pois reside com a família de um tio e um amigo. Há quatro anos moram na mesma casa, no bairro Aimoré.
Em Arroio do Meio “construiu” uma nova família: a comunidade de haitianos, para a qual Diego é uma referência. Como está há bastante tempo no país, domina a língua e tem muito conhecimento, é procurado sempre que um compatriota encontra alguma dificuldade. “Não recuso um pedido de ajuda, não importa a hora. Ajudo a procurar emprego, a praticar o português, ou na questão social quando alguém está sem trabalho e precisa de apoio. Todos me conhecem, me ligam às vezes só para conversar quando estão com saudade da família que está longe. Tenho uma família, mesmo que meu pai e minha mãe não estejam aqui. Gosto de ajudar. Eles dizem: Diego é uma pessoa sábia, que ouve, dá bons conselhos. Fico feliz com isso”, conta.
O jovem lembra que nem todos que chegam têm a mesma sorte que ele e conseguem um trabalho de imediato. As mulheres, percebe, demoram mais para conseguir emprego. “Se não está vivendo junto com a família o haitiano sofre, porque tem as necessidades diárias. Precisa de dinheiro e, para isso, precisa trabalhar”. Por outro lado, destaca a boa vontade de muitos arroio-meenses, que são solidários às necessidades dos imigrantes. “A professora Denise ajuda e já ajudou muito a nós haitianos. Outras pessoas também, com doações na Páscoa e no Natal e de cobertores no inverno, mas a professora faz um trabalho muito especial”.
Larose estima que, em Arroio do Meio, residam 150 haitianos. A grande maioria vive da força do seu trabalho. Diz que nunca foram procurados pelo município para algum projeto social. O único que é desenvolvido com a comunidade haitiana é o da Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, que contempla aulas de português.
Com o objetivo de manter sua religiosidade, fundaram sua igreja e, há alguns meses, têm um local próprio para se encontrar e praticar sua fé. A Igreja Jesus Cristo da Santidade já possui mais de 70 membros. Diego é o vice-coordenador. Já recebeu o convite para ser pastor, mas não se considera preparado o suficiente. É muita responsabilidade para quem é jovem e solteiro. No futuro, quem sabe. Por ora, vai ajudando os irmãos da forma que pode. “Hoje estou vivendo quase 100% feliz aqui. A única coisa é que sinto saudades da minha família”.
O terremoto
Diego já passou por muitos momentos difíceis, mas nunca deixou se abater. Para quem vivenciou a experiência de um terremoto que devastou a capital do país, deixando mais de 300 mil mortos, o que poderia ser pior? Em janeiro de 2010, estava na escola quando o chão tremeu e fez ruir milhares de construções. Na ocasião, foi arremessado da sala de aula, no segundo piso, para o térreo. Ele e outros alunos da escola não tiveram ferimentos graves. Mas as cicatrizes ficarão para sempre na memória. Ainda atordoado e com um ferimento no pé, saiu a procura do irmão. Depois de muito tempo o encontrou e foram para casa. Não tinha comunicação, nem energia elétrica, nem transporte. Na rua, prédios caídos, acidentes, pessoas feridas e desespero. Os pais estavam em outra cidade e, sem qualquer notícia, foi necessário ir ao encontro deles a pé. Foram quatro longos dias até encontrar a mãe. O pai tinha ido em busca dos filhos por outro caminho. Apesar do desencontro e dos dias de angústia sem saber notícias, toda a família estava bem.
Diego perdeu primos e vizinhos, vitimados pelo terremoto. Ao mesmo tempo que presenciou destruição, viu o quanto o ser humano pode ser generoso. O auxílio ao seu povo veio de todos os continentes. Países, jogadores de futebol e outros esportistas, organizações e fundações uniram-se para ajudar os sobreviventes e também a reerguer o Haiti. Contudo, a situação que já era difícil se tornou ainda pior. Se antes as perspectivas de trabalho para os mais jovens já eram limitadas, com o terremoto se tornaram ainda mais distantes. E o Brasil, que ofereceu ajuda humanitária e ficou muito conhecido pelo trabalho da Força de Paz comandada pela ONU, tornou-se uma esperança para os haitianos. Tanto que o país recebeu, entre 2010 e 2015, mais de 70 mil haitianos, segundo dados da Polícia Federal.
Uma família unida e feliz
N a rua Paraíba, no Aimoré, vivem muitas famílias. Uma, em especial, comemora todos os dias o fato de estar reunida. Mirlene Théodore Garraud, 51 anos, o marido Jean Paul Garraud, 53 anos, e os filhos gêmeos Emmanuel Kenley e Esdras Kendy, 21 anos, e o caçula Patterson, 13, residem na mesma casa. Mas nem sempre foi assim.
Em fevereiro de 2012 Mirlene desembarcou em Arroio do Meio. Ela e um outro conterrâneo foram os primeiros imigrantes haitianos que vieram para trabalhar na Dália Alimentos. Professora de francês no Haiti, deixou o marido e os três filhos e rumou em busca de uma vida nova para a família. Não fazia ideia do que encontraria no Brasil. Mas tinha a certeza de que viver no Haiti se tornaria cada vez mais inviável. E não apenas por questões econômicas. O principal motivo para os Garraud saírem do Haiti foi a violência.
Jean Paul, que chegou no ano seguinte, com Patterson, é professor de francês. Considera que a injustiça e a corrupção são dois grandes entraves para o desenvolvimento do Haiti e temia pela segurança da esposa e dos filhos. Diz que é responsável por eles e que não dá para viver num lugar onde não há paz. “A partir do momento que não tem paz, não tem segurança, e qualquer pessoa pode te matar, roubar ou agredir, você não pode ficar neste lugar. No Haiti tem muita violência, muitas pessoas morrem. Agora, neste momento, tem gente morrendo no Haiti”. Contextualiza a afirmação dizendo que médicos, advogados, policiais e quaisquer outros profissionais acabam morrendo sem distinção e, na maioria das vezes, gratuitamente. Todos os dias ocorrem manifestações populares e revoltas pedindo a saída do presidente e a reação do governo é cruel. “Essa é a vida no meu país. Você chega à noite e diz: graças a Deus, terminei o dia vivo”.
Muito falante e impressionado com o clima tranquilo e seguro de Arroio do Meio, Jean Paul, afirma que o sonho da família é permanecer no Brasil e tornarem-se brasileiros. Para ele, migrações são algo natural do ser humano, que sempre vai em busca do melhor para sua família, assim como os alemães e italianos o fizeram no passado. Não pensa em voltar a residir no país de origem e tem a certeza de que, no Brasil, os filhos terão melhores oportunidades.
Os gêmeos Emmanuel e Esdras chegaram em Arroio do Meio em 2016. Completaram o Ensino Médio na escola Guararapes e, hoje, aos 21 anos, trabalham na Dália Alimentos, em Palmas. No momento, são os únicos empregados da família. Os pais estão desempregados desde que foram desligados da unidade de laticínios da empresa no Aimoré, que passou por uma remodelação. Recebem o seguro-desemprego e estão confiantes que muito em breve estarão novamente trabalhando. O patriarca comenta que não é a situação desejada, mas que a família faz o possível para viver com o pouco dinheiro que recebe.
Apesar dos desafios, ainda considera morar em Arroio do Meio muito melhor do que no Haiti. Durante a entrevista elogia o Brasil inúmeras vezes e diz que a cidade tem um povo maravilhoso. “Todos os dias digo que Arroio do Meio é uma boa cidade. Os cidadãos vivem em paz. O Brasil é maravilhoso. Um viva para o Brasil”.
Nem mesmo o desemprego tira a esperança ou desanima a família. Mirlene, que sentiu o impacto de trocar uma sala de aula pelo chão de fábrica, supera outro obstáculo: está em processo de tirar a carteira de motorista. Se para muitos brasileiros já é algo complicado, para alguém que não está habituado à língua e às leis de trânsito é um desafio ainda maior. Mas está confiante que logo estará habilitada e apta a fazer o transporte da família.
Jean Paul dá aulas particulares de francês e aproveita o período para estudar e se capacitar para o mercado de trabalho. No Senai, faz o curso de Mecânica Industrial e, no tempo livre, estuda a história e as características do Vale do Taquari. Para quem tem um curso superior e vem de uma cultura que valoriza a educação, é necessário aprender sempre mais. Atenta que a dinâmica da vida é muito parecida em qualquer lugar do mundo. “Cada dia você levanta da cama e vai trabalhar. É assim aqui e lá. É a vida”. A diferença, no entanto, é a segurança. “Agora estamos bem. E não vou dizer que temos dinheiro, temos saúde e estamos em paz”.
A tranquilidade encontrada no Brasil vale a superação de qualquer adversidade. E, é claro, que elas existiram e ainda existem. A saudade e a preocupação até reunir a família novamente, o idioma, o novo trabalho, a distância dos familiares que ficaram são apenas algumas das situações que a família se deparou. São unânimes ao dizer que nunca sofreram qualquer tipo de preconceito ou discriminação e que ficam surpresos com a generosidade das pessoas. Lembram do empresário Maurício, da Htech Soluções Tecnológicas Informática, que auxilia na digitalização de documentos e agendamentos na Polícia Federal e, é claro, a professora Denise.
O apreço pela professora é visível. Todos sorriem e afirmam o quanto ela foi e é importante para a família e para todos os haitianos em Arroio do Meio. “Uma heroína”, define Jean Paul, lembrando das aulas que fizeram com que muitos imigrantes entendessem o básico do idioma brasileiro e facilitasse o seu dia a dia. Mas muito além das aulas, eles são gratos pelo apoio nas mais diversas situações. “Parece que ela não sabe dizer não. Está sempre presente para ajudar os haitianos. Talvez se não fosse ela, não sei como seria nossa vida aqui”, pontua.
Muito além da sala de aula
A professora Denise é a brasileira mais conhecida entre os haitianos que residem em Arroio do Meio.
Em 24 de dezembro de 2015 uma matéria do jornal O Alto Taquari chamou a atenção da professora aposentada Denise Scheid Huppes. Três imigrantes haitianos relatavam as dificuldades com o idioma e desejavam alguém para lhes ensinar português. Não queriam de graça, se dispunham a pagar. Tocada pela necessidade dos rapazes, ligou para o número de telefone que constava no texto e se ofereceu para ajudar, voluntariamente. Cerca de um mês depois, já estava dando aulas para duas turmas, duas vezes por semana, de manhã e à noite. A Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro cedeu uma sala, enquanto Denise preparava o conteúdo e fornecia o material.
Ao preparar a primeira aula, a professora, que ensinava história quando estava na ativa, entendeu que este trabalho não seria algo simples. Era necessário pensar e preparar o conteúdo de forma que todos pudessem compreender. Praticamente não encontrou material de suporte e não conhecia a língua pátria deles. Desenvolveu seu próprio método de ensino, que se parece com um processo de alfabetização, focado em situações cotidianas. “O que me salvou, no começo, foi uma cartilha que a assistente social da Diocese, a Jenifer, me deu. Essa apostila tinha sido distribuída quando os primeiros haitianos chegaram no Brasil, era uma espécie de dicionário crioulo e português”, conta.
Separou o conteúdo por temas, aproveitando para trabalhar em paralelo à gramática, com ajuda de gravuras, jogos e outros materiais. O primeiro tema foi a apresentação pessoal, com os verbos ser e estar, seguido pelos números e o alfabeto. As aulas precisam levar em consideração que os imigrantes não sabem coisas que são básicas para os nativos. Não têm a noção do valor do dinheiro, o nome dos alimentos, as partes do corpo, itens de vestuário, profissões, graus de parentesco, cores, animais. “Num primeiro momento penso em passar o básico. Um pouco de tudo, para que possam ter uma certa autonomia. Se precisarem ir ao médico, vão saber dizer que parte do corpo dói”, exemplifica.
Com o passar do tempo o grupo de alunos foi aumentando, com aulas em três manhãs, três noites e duas tardes. Denise fez um nivelamento e os que já estavam mais adiantados seguiram tendo aulas com a professora Rosângela Thomé Fensterseiffer por um ano.
Atualmente as aulas ocorrem no Aimoré, num espaço próximo à igreja recém-fundada, duas vezes por semana, das 18h às 20h30min. O espaço é improvisado, no porão de uma casa. Na parede, um quadro branco divide espaço com um pequeno cartaz escrito em três idiomas – português, crioulo e francês – que simboliza bem o que acontece ali: “Escola Aprender com Alegria”. Os alunos são de idade variada. A maioria são jovens adultos, que abrem um largo sorriso quando veem a professora. As crianças frequentam as escolas do município e, segundo Patterson, não há dificuldades.
Se no começo as aulas dependiam do material adquirido pela professora, hoje a realidade é diferente. Desde que conquistou a filantropia, a Diocese de Santa Cruz do Sul repassa um valor para o Projeto Haiti desenvolvido em Arroio do Meio. O montante é usado para adquirir material escolar para os alunos e para ser usado nas aulas.
Denise percebe que no Haiti a educação é muito valorizada e o ensino é de boa qualidade e fica feliz em poder auxiliar para que os haitianos tenham uma vida melhor em solo brasileiro.
Trocas e aprendizados
Pelo trabalho que desenvolve junto à comunidade de haitianos, Denise se tornou uma referência para eles. É consultada em casos de dúvidas, problemas pessoais e até na aquisição de imóveis. As boas notícias também são compartilhadas com a professora. Os haitianos são muito gratos pelo acolhimento e a professora é lembrada nas mais diversas situações. Já foi chamada para quatro casamentos, formaturas e para receber familiares no aeroporto. “É sempre muito gratificante receber esse carinho. Vivi momentos muito bons na profissão e sempre quis ter uma aposentadoria ativa. Faço esse trabalho por amor e porque gosto. Não há dinheiro que pague esse sentimento de saber que fiz algo que impactou positivamente nas suas vidas. Aprendo muito com eles”.
O aprendizado que Denise fala tem a ver com gratidão, persistência, superação, ética e educação. Avalia que a cultura dos haitianos preza muito pelos valores, como o respeito aos mais velhos e ao que é certo. “Valorizam a família, o trabalho, os professores, respeitam as pessoas mais velhas, são trabalhadores, disciplinados e bons pagadores. Não se tem conhecimento de problemas criados por um haitiano. E, se algum dia tiver, será uma exceção. São muito ordeiros e respeitadores”, avaliza.
Neste período em que está próxima dos alunos, viveu muitas experiências positivas. Ficou profundamente tocada com o reencontro, quatro anos depois, de um senhor com sua esposa e o filho, que tinha quatro meses quando o pai veio para o Brasil. Esteve presente nestes reencontros no aeroporto três vezes e ainda se emociona ao lembrar que, numa destas oportunidades, ficou impressionada ao ver uma senhora chegando com duas crianças e três mochilas. “Toda a vida dela cabia em três mochilas, toda sua história, suas memórias afetivas. Nós não fazemos ideia do que é deixar nosso país e recomeçar do zero longe de casa. Muitos têm curso superior e vêm para cá trabalhar como operários”.
A professora, que ensina e aprende, lembra que a solidariedade para com o próximo deve ser uma prática diária. “A grande maioria de nós é descendente de imigrantes. Um dia foram nossos antepassados que saíram em busca de uma vida melhor para os seus. Hoje são eles. Temos que nos colocar no lugar do outro e ajudar no que for possível. Se quisermos, podemos aprender muito com a história deles”.
Superação, força de vontade, esperança, cooperação, doação e amor são apenas alguns dos aprendizados possíveis. Quanto mais inseridos na comunidade estiverem, mais os haitianos poderão compartilhar suas experiências de vida e ajudar a criar uma nova história no Brasil, respeitando as diferenças e somando no que há de melhor de cada um.