Estou lendo um livro fascinante. Foi escrito por Richard Grant, jornalista inglês que passou viajando a maior parte da vida. Não, como turista, mas como viajante mesmo, do tipo que se expõe às cruas condições da realidade. Grant escreveu sobre andanças pela África, depois, México e, agora, Estados Unidos.
Richard Grant adorava viver assim sem ter endereço fixo até… até se apaixonar por uma casa que estava à venda na região do delta do rio Mississipi. O lugar era isolado demais, no meio de pântanos, mas a vista era linda. A casa reclamava reparos, mas tinha espaço para tudo, estava rodeada por bosques e havia ali uma horta. Além disso, Grant tinha alguns conhecidos na região e achou que seria fácil fazer novos amigos.
Por último, o que decidiu mesmo foi o preço. Ele pagaria pela casa valor mais ou menos equivalente a um ano de aluguel no apartamentinho abafado em que morava em Nova Iorque naquela altura.
Negócio fechado.
Neste ponto começa o livro.
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Richard Grant relata a experiência de mudar totalmente o estilo de vida, passando a habitar a região mais pobre dos Estados Unidos. A narrativa abrange as agruras dos consertos na casa e inúmeros aprendizados: cultivar verduras, espantar mosquitos, lidar com armas de caça, etc. E, especialmente, conviver com negros e brancos, meio ao racismo ainda dominante. Sua conclusão sobre o tema do racismo é singular: “quanto mais eu conheço, mais vejo como o assunto é complexo”.
A região do delta do rio Mississipi é uma das mais férteis do mundo. Foi o centro das chamadas “plantations”, as grandes fazendas produtoras de algodão que empregavam milhões de escravos até meados do século XIX. As plantations geravam uma riqueza imensa para os proprietários brancos que perfaziam uns 6% da população. O fim da escravidão e a chegada das máquinas mudaram tudo. O que continuou foi o racismo – sentimento profundamente entranhado na cultura local.
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O livro faz pensar muito.
Entre outras coisas: como seria se um de nós se mudasse para um lugar, mesmo se fosse aqui por perto, para um lugar onde a internet ainda não tenha chegado? Digamos, para a Canhada Funda, no interior de Pouso Novo? Que legal seria contar como transcorre a vida ali: o dia a dia da roça; o carteado na bodega; os preparativos para ir no baile; o jeito de celebrar um casamento; a organização de um velório, etc. Sem falar nas conversas entre as mulheres preparando a salada para a festa da igreja ou entre os homens, enquanto jogam bocha…
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Será que tem alguma casa à venda na Canhada Funda?